http://www.youtube.com/watch?v=zDJee4stYN0&feature=related
Recentemente assiti a um vídeo de uma palestra do americano Noam Chomsky (link do vídeo disponível logo acima). Na parte que vi, ele fazia uma crítica acerca do leninismo e da revolução russa. E apesar de adotar a velha idéia de que o socialismo não existiu na URSS, seus argumentos são bastante lógicos e interessantes. Muitos marxistas-leninistas se indignariam com eles, mas eu creio que finalmente passei da fase de me irritar com visões diferentes da minha. O que fiz foi pensar sobre eles. É certamente muito fácil taxá-los de "social-democrata", "anti-leninista", "anti-soviético", até mesmo de "burguês", já que ele é americano. Porém isto não anula os argumentos e serve o mesmo propósito que os acadêmicos do "mainstream" da História seguem ao taxar historiadores contra-paradigmáticos de "stalinistas". Ou seja, repressão ideológica. Portanto, resolvi criticar Chomsky de uma maneira que julgo mais correta, que é com argumentos, que á através do diálogo.
O que vi de mais preocupante nos argumentos de Chosmky, é que ele basicamente se detém a uma crítica teórica, uma crítica que passa bem longe do processo histórico. Ele defende que Lênin era um marxista ortodoxo extremamente autoritário e que, por ser um hábil político, fingiu ser libertário para ganhar o apoio das massas. Reconheço nisto algo típico do pensamento liberal, a premissa de que todo o indivíduo ou está em busca de dinheiro ou de poder. O que é um reducionismo tremendo. E este tipo de visão, como tantas outras, sempre busca enquadrar um processo histórico em seu esquema rigido de funcionamento baseado na premissa da "natureza humana", que seria a busca por poder e riqueza.
Em nenhum momento ele foi aos fatos, apenas disse para nós irmos aos fatos. E quais são os fatos? A Rússia era um Império extramente autoritário, decadente e reacionário. Havia apenas uma elite letrada e rica, enquanto que a maioria da população vivia na miséria, sujeitada a todo tipo de exploração. As forças produtivas eram ultrapassadas e, na verdade, estavam mais próximas de forças improdutivas do que de qualquer outra coisa. Além disso, o país se exauria em uma Guerra Mundial, enfrentando adversários muito mais desenvolvidos e poderosos.
Então veio Lênin e os comunistas. Através da força subjugaram o governo provisório de direita - que basicamente manteve as mesmas posições tzaristas - e instauraram um novo regime. Um regime que não começaria do zero, começaria do -10. Pois a Rússia era uma desgraça de um lado ao outro. E não só por causa das condições internas, mas por causa das externas também. Logo formou-se uma aliança entre as potências ocidentais para extirpar a revolução russa da face da Terra. Eu sinceramente adoraria ver os trabalhadores donos dos meios de produção efetivamente, além de ver todo o poder aos sovietes. Mas na prática, inserido em seu contexto histórico, isto seria realmente possível?
Não, não seria. Lênin, com sua incrível capacidade de compreender os eventos presentes - pouco igualada por outros homens - percebeu que a única maneira do primeiro Estado socialista sobreviver era através do chamado "Comunismo de Guerra". Ou seja, o Partido devia converter-se em uma arma popular contra a invasão estrangeira. O Partido Bolchevique tornou-se então um órgão de extrema disciplina, organizado pelos "revolucionários profissionais" com o único objetivo de esmagar os Exércitos Brancos contra-revolucionários. Em uma guerra não há espaço para democracia, não há espaço para discussões prolongadas, não há espaço para mais nada que não seja combater. Neste sentido, é óbvio que deve haver uma centralização de poderes. O que Chomsky queria? Que houvessem, sei lá, três meses de socialismo para depois restaurar-se o Império?
Admiro Lênin por uma coisa: ele era tão bom teórico quanto prático. Ele não lançava idéias ao ar e não agia, muito menos apenas agia e deixava o conhecimento teórico de lado. Como quase nenhuma outra pessoa na História, Lênin conseguia unir teoria e prática de maneira absurda. Ele entendia que o marxismo não era um dogma e que, muitas vezes, um revolucionário deve ter a capacidade de ler o presente para tomar atitudes concretas, seja elas compatíveis ou não com o marxismo. Por outro lado, entendia que não devia se prender ao economicismo e ao pragmatismo extremo, que o marxismo era um instrumento bastante importante para a compreensão do mundo e para a construção de uma nação socialista.
Portanto ele logo compreendeu que a saída para a situação da Rússia não estava nos escritos de Marx - quando o velho imaginaria uma revolução em tais condições? - e que ele deveria se virar para encontrar uma. O que ele encontrou foi a transformação do povo em um exército disciplinado, centralizado e imbuído de uma moral revolucionária inquebrável. E quem pode dizer que ele estava errado? O Exército Vermelho lutou bravamente e esmagou soldados de 14 diferentes nações, incluindo potências européias como a França. O primeiro - e extremamente frágil - Estado socialista do mundo sobreviveu à sangrenta Guerra Civil. A pergunta que faço é: teria ele sobrevivido se permanecesse descentralizado em sovietes de trabalhadores? Será que homens comuns que jamais estudaram táticas de combate em suas vidas teriam a capacidade de, em forma de assembléias populares, derrotar exércitos muito mais estruturados, mais evoluídos em tecnologia militar e financiados por potências industriais capitalistas? Creio que a resposta é não, seja qual for sua tendência política.
Passada a Guerra Civil, a Rússia estava devastada - ainda mais do que antes da revolução. E Lênin compreendia que a única maneira de um Estado socialista sobreviver em um mundo hostil era através da industrialização, da modernização e do desenvolvimento das forças produtivas, o que ele chamou de "eletrificação" da nação. O que havia naquele momento não era socialismo, mas sim um estado de transição ao socialismo. Era como se fosse um estágio de revolução burguesa forçado. Para isso ser feito, Lênin não deu bola ao choro dos "marxistas de esquerda" - como diz Chomsky - pois ele tinha o nível de auto-crítica suficiente para saber que aquele não era o momento certo para implantar efetivamente o socialismo e entregar todo o poder aos sovietes. Ao contrário do que Chomsky afirma, Lênin tinha a certeza de que a URSS poderia se desenvolver sozinha, mas para isso deveria fazer certos sacrifícios. Aí vem sua famosa frase: "devemos dar um passo para trás para dar mais dois à frente". Ele não permaneceu passivo, apenas esperando a Revolução na Alemanha - isto é coisa de Trotsky e dos mencheviques - Lênin trabalhou incessantemente em torno da Nova Política Econômica, que seria uma fase de capitalismo controlado - algo como o modelo chinês de hoje, em uma comparação bem tosca - que serviria como base para a eletrificação do país. Era o ponto de partida do desenvolvimento das forças produtivas.
Esta parte é muito interessante principalmente em relação às críticas de Chomsky. Observem que Lênin disse com todas as letras que estava dando passos para trás, que não estava seguindo uma política socialista. Isto é muito diferente de manipular as massas para então forjar o Estado da maneira que ele bem entendia. Em minha opinião, isto é o que difere um marxista de outros tipos de socialistas pejorativamente chamados de "utópicos". Ele não se cegava pela ideologia facilmente, ele tinha um nível considerável de auto-crítica e, portanto, uma sobriedade tremenda para analisar os fatos que o cercavam. Ele jamais desistiria de uma decisão acertada apenas para se afirmar como um verdadeiro marxista ou porque de acordo com o marxismo aquilo era "contra-revolucionário". Lênin entendia que o mundo não podia ser reduzido a uma receita, entendia que a história é uma caixa de surpresas e BUM! De repente alguém tem que se virar com uma nação socialista imersa em uma base semi-feudal e hostilizada por todas as potências do planeta. E aí? É entregar as armas e esperar a Revolução Mundial? É, insensatamente, entregar todo o poder às assembléias populares e ver o socialismo morrer como na Comuna de Paris? Ou deve-se encontrar uma maneira - talvez não-socialista - de se salvar o próprio socialismo? Ele escolheu a última.
E Chomsky e os "marxistas de esquerda"? O que escolheriam?
Eu debo ser muito ortodoxo, porque para min o Chomski non é máis que un pequenoburgués. Gostaríame velo nesa época, liderando un estado obreiro, a ver que faría. A burguesía quixo enterrar a Stalin, e agora vai por Lenin. Mais digo eu, cual é a diferenza entre Lenin e Stalin? Millóns de kilos de propaganda burguesa, esa é a diferenza. Os dous seguiron firmes á única ideoloxía obreira que existe, o marxismo, a dialéctica materialista, o materialismo histórico. Os dous foron feros defensores dos intereses da maioría, dos de abaixo, dos que sempre tiveron que servir ao amo.
ResponderExcluirNon hai diferenza entre Lenin e Stalin. É o brazo da burguesía no movemento obreiro, quen leva anos querendo espaiar esa idea.
A pequena-burguesía leva ben de tempo falando de babosadas, de ideas burguesas: liberdades democráticas, multipartidismo, e outras lorchas polo estilo. A clase obreira debe fuxir destas trampas burguesas.
Só hai un camiño, a clase obreira organizada esmagando ao seu amo, ao seu tiro, ao seu INIMIGO, a maldita burguesía.
Viva o marxismo-leninismo! Viva a clase obreira organizada en Partido! Non hai tregua!