sábado, 19 de junho de 2010

Causas do fim da União Soviética - Parte I


Terminada a Segunda Guerra Mundial e o período de reconstrução, a União Soviética despontou no mundo como uma super potência. Ela conhecera um desenvolvimento jamais visto antes. Em cerca de 20 anos saíra de um país agrário, semi-feudal, para um industrializado, moderno e incrivelmente poderoso. Basicamente isolada do mundo, a URSS abriu um novo caminho para nações que buscavam independência da exploração imperialista das potências capitalistas, afinal, ela se erguera por suas próprias pernas e pela luta de seu próprio povo. Não houve injeção de capital estrangeiro, não houve grandes investimentos capitalistas, o que houve foi o entusiasmo revolucionário dos trabalhadores e a eficiência de planos econômicos conhecidos como "Planos Qüinqüenais". Devido a eles, a primeira nação socialista do mundo entrou nos anos 50 como exemplo de um caminho a ser seguido. Um exemplo de sucesso estrondoso.

No entanto, em meados da década de 80, a super potência começou a demonstrar desgaste. A produção já não era mais grande coisa, a economia estava decaindo e o padrão de vida também. Do mesmo jeito que despontara para a glória, a União Soviética despencava para o esquecimento. E quais seriam as razões de tal decadência? Já se produziu bastante coisa sobre o assunto, mas boa parte peca por formar críticas extremamente ideológicas e muito pouco presas aos processos históricos soviéticos. Como, por exemplo, a tão conhecida idéia da superioridade da economia de mercado sobre a planificação socialista. Diz-se que esta tende a estagnar-se por falta de competição, por falta de liberdade de investimentos, por falta da iniciativa privada, ou seja, por falta da incessante busca pelo lucro. Tais críticos deveriam, pelo menos, dar uma olhada na economia da RDA que, mesmo no fim dos anos 80, crescia acima das médias da RFA e inclusive dos EUA. Além de se atentar à já mencionada eficiência da planificação socialista sem querer forçá-la dentro de um esquema ideológico liberal, e sim procurando observá-la dentro do contexto soviético. Esta crítica serve para todo o tipo de análise sobre a URSS, que sempre é feita tendo por molde o paradigma totalitário, o que acaba por empobrecer todas as pesquisas e limitar a compreensão de uma das mais ricas experiências históricas do mundo.

Bom, com este post pretendo iniciar minha jornada em torno das causas do fim da União Soviética, vista por uma perspectiva fora do paradigma totalitário e do paradigma liberal. É bom frisar que não pretendo fazer artigos acadêmicos e tudo o mais, minha vontade é apresentar meu ponto de vista e dar uma introdução básica do assunto a pessoas interessadas. Não vou ficar aqui apelando a autoridades toda a hora e colocando notas em tudo que digo. Até posso fazer artigos sobre o assunto no futuro, mas por enquanto me contento com simples discussões acerca da História Soviética sem pretensão alguma além de abrir a mente de quem ler para um modo diferente de ser ver o mundo. Esta primeira parte abordará uma questão externa à URSS que contribuiu bastante para seu fim, o fato de que sua política internacionalista levou-a a carregar em suas costas uma série de nações subdesenvolvidas e/ou devastadas pela guerra.

Cabe agora definir o que chamo de subdesenvolvido. Englobo neste termo países pouco industrializados ou basicamente não-industrializados; países com economias fracas e dependentes de capital externo; países com infra-estrutura precária e países com graves problemas sociais e políticos. Dito isso, apresentarei meu ponto de vista a seguir.

Dentro da perspectiva internacionalista do bolchevismo, a União Soviética tinha deveres frente ao mundo que deveriam ser cumpridos. Por ser o primeiro Estado socialista, deveria ser a defensora dos povos oprimidos pelo imperialismo e, conseqüentemente, exportadora dos ideais socialistas a toda classe trabalhadora de todas as nações do planeta. Dito isto, não só deveria ajudar partidos aliados através da Internacional, como também tinha que auxiliar nações subdesenvolvidas em suas lutas pela emancipação e pela autodeterminação. Além é claro, de que no pós-Segunda Guerra, havia a importante questão de reconstruir países devastados pelos combates - inclusive ela mesma.

O que resulta deste cenário? A União Soviética era uma superpotência que sofrera muitos danos pela guerra - mais de 20 milhões de vidas humanas e incontáveis prejuízos econômicos e estruturais. A União Soviética teve de se reconstruir sozinha - imaginem os gastos para tal feito. A União Soviética injetou bastante divisas em países do Leste Europeu, não só para reconstruí-los como também para industrializá-los e conceder-lhes bases para o socialismo - imaginem gastos ainda mais estratosféricos. Por último, a União Soviética investiu pesadamente em lutas anti-colonialistas do pós-guerra, em movimentos revolucionários por todo o globo, e em governos aliados que buscavam superar o subdesenvolvimento. Basicamente metade do planeta passou a depender da União Soviética para conseguir dar seus primeiros passos em busca de independência. Imaginem o esforço que uma nação tem de fazer dentro de um cenário como estes. E mesmo esta nação sendo uma superpotência, tais investimentos pesam e somados com tantos outros gastos necessários para um governo socialista se manter - forças armadas; subisídios em alimentação, transporte, lazer; educação e sistema de saúde de graça; etc - acabaram por ter um papel importante na dissolução do país.

Enfim, a União Soviética teve de carregar um mundo de bebês, cuidando deles até que tivessem força o bastante para andar com as prórias pernas, o que era uma tarefa ainda mais difícil devido ao antagonismo dos EUA e das potências européias - que sempre buscavam sabotar os movimentos progressitas de esquerda por todo o mundo, incluindo o próprio regime soviético. Não há dúvidas de que o maior poderio econômico estava do lado dos EUA - eles não sofreram com a destruição da guerra, ainda enriqueceram mais com ela. Até porque ele tinha o apoio de outras potências como a Inglaterra, a França, a Alemanha Ocidental, etc. Os EUA não precisavam ergueer bebês até a maturidade, apenas dar a mão a adultos fortes que haviam tropeçado em seus caminhos. Neste sentido, a URSS começou uma corrida estando a uns dois quilômetros atrás do competidor e tendo que tirar a distância desesperadamente o mais rápido possível.

Com isto não estou sugerindo que os fatores externos foram decisivos para a queda do regime soviético - já que há motivos internos bastante fortes também -, estou apenas tentando demonstrar o quanto a situação soviética era desfavorável no início da Guerra Fria e no seu decorrer. Poucas pessoas se atentam a este fato quando iniciam seus ataques ao socialismo, chamando-o de insustentável, utópico, entre outras coisas. Uma coisa é você defender o status quo, já plenamente desenvolvido durante alguns bons séculos de experiência, outra totalmente diferente é lutar por uma coisa nova, sem todo um aparato para mantê-la e protegê-la. Enfrentar todo um mundo contra você não é tarefa fácil para ninguém e, infelizmente, o socialismo soviético não conseguiu se sustentar frente a tamanha pressão.

Espero ter contribuído para uma reflexão melhor e mais profunda acerca da Guerra Fria e da queda da União Soviética. Na próxima parte procurarei abordar uma questão interna: o surgimento da segunda economia e o investimento de altos membros do Partido neste mercado clandestino.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O perigo do nacional-bolchevismo


Nascido das cinzas de uma União Soviética humilhada pelo revisionismo, o nacional-bolchevismo surge como reflexo das mais reacionárias forças que habitavam o finado Partido Comunista da União Soviética. Fundado no princípio do "Eurasianismo" como opositor do "Atlantismo", defende o legado do Império Romano, do Russo, do Alemão e do Austro-Húngaro. Isto é, para o Nacional-Bolchevismo o que vale é o autoritarismo, a hierarquia, o comunitarismo forçado e o imperialismo. E nesta sopa ideológica bizarra, coloca Lênin, Mussolini, Hitler, Júlio César, Pedro o Grande, Stálin e sei lá quem mais, no mesmo barco. Os nacional-bolchevistas defendem uma Rússia forte, que domine o continente de Leste a Oeste, portanto, defendem um Império Euroasiático.

O bolchevismo no nome é obviamente utilizado de maneira semelhante ao socialismo do partido nazista alemão. É uma forma de atrair jovens e pessoas em geral que tenham tendências socialistas, mas que sejam inexperientes politicamente. É uma armadilha para "rebeldes" em geral. Já que Lênin, Dzherzinsky, Stálin, Molotov, Kirov, entre tantos outros influentes bolcheviques, provavelmente vomitariam após ler alguma das idiotices proferidas por Aleksandr Dugin - um dos ideólogos fundadores do Nacional-Bolchevismo.

Vale ressaltar que o centro do bolchevismo eram as massas e as assembléias populares (que, em russo, chamavam-se "soviet"). O bolchevismo foi um movimento proletário que visava varrer o mundo do autoritarismo, da exploração do homem pelo homem e de qualquer forma de imperialismo. A degenerescência do então Partido Comunista de Toda a União Bolchevique acabou por formar algo que assemelha-se ao ideal nacional-bolchevista, porém a linha partidária não era mais bolchevique e, sim, revisionista. Homens como Brezhnev vislumbravam a Rússia como a maior potência do mundo, subjugando a todos com seu poderio militar. Seu governo que costumo chamar de "nacional-imperialista" visava a supremacia soviética no mundo, deixando as aspirações populares de lado. Ele era de uma ala revisionista conservadora e anti-liberal, porém anti-comunista também, talvez um pouco influenciada pelas teses euroasiáticas do início do século XX.

Além disso, o Nacional-Bolchevismo repudia o socialismo por ser filho do Iluminismo, assim como o liberalismo. Então o que tem de bolchevique nisso? Nada. Era melhor o nome ser Partido Fascista Russo, mais aí ele seria logo ridicularizado. Ao se esconder por trás do bolchevismo, esta ideologia monstruosa se firma como algo justo, utilizando símbolos populares como a foice e o martelo para enganar os leigos que simpatizam com a luta de Lênin e da União Soviética. Já vi vários ditos socialistas apoiando essa aberração política, sem nem saber que por trás daquela bandeira vermelha está o fantasma da antítese do comunismo, o nacional-socialismo de Hitler e o fascismo de Mussolini.


Portanto, comunistas e socialistas de todo o mundo, fiquem alertas. Não se deixem levar pelas retóricas e símbolos esquerdistas do Nacional-Bolchevismo. Esta ideologia, na verdade, é a união de todas as porcarias as quais os comunistas sempre lutaram contra. É o renascimento do espasmo político burguês do século passado, é o filhote revoltado do liberalismo, é o capitalismo em sua forma mais agressiva e amedrontada, é a escória do pensamento humano.