domingo, 20 de março de 2011

Atualização no caso das falsificações dos arquivos russos: Morre Viktor Ilyukhin

Viktor Ilyukhin (1949-2011)
Na noite de 19 para 20 de Março, na região de Moscou, o deputado da Duma e membro do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, Viktor Ilyukhin, faleceu. A versão oficial acerca de sua morte diz que ele sofreu um "ataque cardíaco". O Partido Comunista insistiu publicamente que haja uma investigação completa acerca das "circunstâncias e das causas de sua morte", já que Ilyukhin liderava as investigações em torno das falsificações dos arquivos russos. Falsificações estas, que entre outras coisas, envolviam o polêmico caso de Katyn.

A perda de Ilyukhin é um golpe contra todos os que lutam contra a manipulação descarada da história da revolucionária luta do povo russo contra a opressão do tzarismo, do capital e do imperialismo ocidental. Ilyukhin já havia revelado a existência de grupos de falsificadores montados pelo regime de Yeltsin, mas sempre mantendo a identidade de seu informante em segredo, temendo represálias contra ele por parte das autoridades russas.

Com as recentes medidas de "desestalinização" e de ataques declarados as bases do regime comunista soviético, o governo russo, em minha opinião, é bastante suspeito. Ainda mais porque ultimamente havia grande pressa em reconhecer Katyn como um crime russo, em uma tentativa de aproximação com o governo polonês. E Ilyukhin era uma pedra no sapato das grandes. Soma-se isso à personalidade truculenta e autoritária de Vladimir Putin, e o resultado é bastante favorável ao assassinato do corajoso e insistente parlamentar do Partido Comunista.

Não vejo muitas esperanças em uma investigação. Será mais uma daquelas mortes misteriosas não resolvidas tão comuns não só na política russa, como de todo o mundo. Provavelmente a versão do ataque cardíaco continuará sendo a oficial, sendo ela verdadeira ou não. Mesmo que o Partido de Viktor insista que suas condições de saúde eram excelentes, como o fizeram na nota de seu falecimento.

Viktor Ilyukhin foi certamente um homem de fibra, que lutou por seus ideais e por suas convicções, que enfrentou o governo russo destemidamente, fazendo uma oposição bem estruturada e tremendamente incômoda. Suas investigações levantaram fatos que podiam - e ainda podem - derrubar boa parte da versão oficial da história da União Soviética, algo que mexe não só com os conservadores russos, mas com os de todo o mundo.

A morte de Viktor Ilyukhin foi uma grande perda para todos as organizações de esquerda do mundo. Que ele descanse em paz.

Link para a nota de falecimento de Viktor Ilyukhin, feita pelo Partido Comunista da Federação Russa (em russo): http://kprf.ru/party_live/89239.html

Ilyukhin discursando na Duma.

Bielorrússia, a última das Repúblicas Soviéticas

    
Presidente Alexander Lukashenko.
Bielorrússia, uma pequena República que faz divisa com a parte ocidental e européia da Rússia. Quase não é lembrada pelo mundo, quando é, é para ser taxada pela conservadoríssima União Européia e pelo imperialista Estados Unidos como a "última ditadura da Europa". Engraçado é que nem os movimentos progressistas e comunistas de todo o mundo se lembram dela. Há um vácuo em relação a informações sobre esta nação, um vácuo que é esparsamente ocupado apenas pela propaganda direitista, que nutre um ódio profundo contra o regime igualitarista do Presidente Alexander Lukashenko.

Lukashenko foi eleito primeiramente em 1994, pela considerável votação de 80% da população. Isto porque suas propostas eram muito próximas do sistema socialista soviético, que gozava de grande popularidade entre os cidadãos - como mostra o referendo feito na URSS em 1991, mais de 70% da população defendia a continuidade do país socialista. Lukashenko defendia uma nação orientada para o bem-estar social do povo, e não para o enriquecimento da burguesia. As características mais proeminentes do sistema soviético eram mantidas em suas propostas, como toda a gama de serviços públicos eficientes, modernos e voltados para a população (entre eles, o sistema educacional, o sistema de saúde, de transportes, de segurança, etc.), a economia fortemente nacionalizada e estatal, além da manutenção de parte da cultura e das tradições soviéticas.

Firmemente fiel aos seus princípios, o Presidente Lukashenko pôs em prática suas propostas e o resultado foi um enorme contraste em relação as outras ex-Repúblicas socialistas: progresso. Enquanto Rússia, Ucrânia e outras chafurdavam na miséria após as criminosas privatizações das riquezas populares (resultando em milhões de mortes por falta de recursos e infra-estrutura pública que desse assitência aos cidadãos), a Bielorrúsia se desenvolvia a passos largos, com a economia crescendo, em média, de 5% a 10% ao ano. A taxa de analfabetismo foi mantida nos baixíssimos padrões soviéticos (0,3%) e o desemprego encontra-se abaixo de 1%. Outro índice interessante é que a diferença do maior para o menor salário é de 5 vezes apenas.

É notável a proximidade do atual regime Bielorrusso com a antiga República Soviética, com a devida diferença de que ele não é um Estado socialista por completo. Existem várias empresas privadas (cerca de 47% da população é empregada por empresas privadas) e, portanto, uma classe burguesa. No entanto, ela não é favorecida pelo governo, que mantém suas metas voltadas ao desenvolvimento social de seu povo.

Devido a estas caracterísiticas, a República da Bielorrússia sofre com a oposição das potências imperialistas, ávidas por seu mercado consumidor e pela força de trabalho de alto nível (altamente educada e especializada). A cada eleição, Lukashenko é desafiado por um candidato marionete dos EUA que, obviamente recebe uma votação ínfima. Nas últimas eleições (2010), Lukashenko alcançou 79% dos votos, esmagando a fraca oposição pró-Ocidente. É lógico que para a mente dos imperialistas só pode ter ocorrido fraude, mas para qualquer pessoa que olhe para a situação do país sem qualquer tipo de preconceito, é óbvio que o grande desenvolvimento econômico (em 2010, o poder de compra do povo bielorrusso aumentou em 8.7%) e social da nação pesa bastante para o lado de Lukashenko. Quem em sua sã consciência votaria em uma oposição pró-Ocidente? Ainda mais com mais outra crise do liberalismo abalando boa parte do mundo.

E quanto ao sistema político Bielorrusso? As alegações das potências imperialistas do mundo acerca da Bielorrússia ser a "última ditadura da Europa" têm alguma base? Devo dizer que não. Aliás, o sistema político Bielorrusso me parece muito mais democrático do que as tiranias burguesas semelhantes aos Estados Unidos. Ele é largamente não-partidário, ou seja, a maioria esmagadora dos membros da Assembléia Popular não tem Partido (em 2007, 98 dos 110 parlamentares não tinha afiliação partidária). São eles membros de organizações como sindicatos, associações públicas e organizações da sociedade civil. Esta peculiariedade lembra bastante o modelo político cubano, já que este também é não-partidário (assistam o documentário acerca dos direitos humanos em Cuba aqui: http://mamayev-kurgan.blogspot.com/2010/12/com-cuba-pela-liberdade-e-pelo.html).

Portanto, vejo na Bielorrússia e em Lukashenko, um farol de resistência à tirania do capital e do imperialismo. Um país pacífico, progressista, de mentalidade socialista e nacional-desenvolvimentista. Um país que se orgulha - e com razão - de sua herança Soviética. Um pequeno e esquecido país que é um grande exemplo para a humanidade.

Para os interessados, um bom artigo sobre a cortina de mentiras feita pelo ocidente acerca da Bielorrússia: http://marxistleninist.wordpress.com/2011/02/24/belarusian-presidential-elections-western-portrayals-of-lukashenko%E2%80%99s-government-and-the-recent-elections-are-a-far-cry-from-the-truth/

A maioria dos dados sobre a Bielorrússia presentes neste texto podem ser encontrados na página sobre esta nação na wikipedia. O resto dos dados foram retirados do artigo explicitado acima.

Estátua de Lênin em frente a Casa de Governo da Bielorrússia, em Minsk.

P.S.
Acabei deletando sem querer este post, confundindo-o com um velho rascunho, mas, felizmente, consegui recuperá-lo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Cuba: O Socialismo não será abandonado!

Voltemos agora aos artigos acerca do "Socialismo Real". Espero que este pequeno e simples ensaio ajude ao leitor a compreender as bases das mudanças econômicas em Cuba. E também espero que contribua para desmistificar o conto de fadas do "livre mercado" ser instaurado em Cuba, como vem sendo dito por nossa "imparcial" e "não-ideológica" mídia.

O Socialismo vive em Cuba.

 Introdução

                Ultimamente tem se visto bastante na mídia internacional notícias acerca das “reformas econômicas” cubanas. Fidel teria dito que o sistema econômico socialista estava ultrapassado, o governo está cortando 500 mil empregos e deixando milhares de cidadãos desempregados e, acima de tudo, o governo está planejando adotar “reformas” que tornarão a Ilha capitalista. Quantos de vocês – inclusive ditos marxistas ou de esquerda – acreditaram nestas mensagens? Quantos militantes comunistas ao redor do mundo não chiaram, achando que Cuba estava lançando no lixo as vitórias da Revolução? Que Cuba estava traindo o maior de seus heróis, Ernesto “Che” Guevara?
                Devo admitir que por alguns momentos cheguei a ser parte desse grupo. Vi as notícias e pensei: “Pronto, é o fim do socialismo!”, “Fidel está caduco e, assim que morrer, o capitalismo será restaurado.”. É claro que depois de ponderar por alguns minutos acerca destas questões cheguei a óbvia conclusão de que deveria buscar mais informações, já que, desde quando qualquer coisa veiculada pela mídia privada é confiável? Já dizia o velho Lênin: Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra desta pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública”.
            Mas o fato é que estamos tão embrenhados na sociedade capitalista que às vezes é difícil escapar de seus mecanismos de controle, de suas armadilhas propagandísticas e ideológicas. Somos bombardeados desde pequeno por uma avalanche de informações pró-burguesas, pró-capitalistas, anti-comunistas, pró-imperialistas e anti-populares. Seja na escola, na universidade, em casa, na rua. Os veículos de informação difundem o que é do interesse da classe dominante, não o interesse dos trabalhadores. Portanto, muitas vezes distorcem a realidade, tornando-a alinhada aos interesses ideológicos dos Estados ocidentais.
                No caso de Cuba, qual seria este interesse? O mesmo que havia em relação à União Soviética, à República Popular da Albânia, à República Democrática Alemã, etc. “Demonstrar” o fracasso do modelo socialista, da “utopia” marxista e, conseqüentemente, a superioridade indiscutível do deus mercado. Para atingir tais objetivos, a distorção alcançou níveis exorbitantes, com uma manipulação dos dados apresentados pelo governo cubano e também dos lineamentos das “reformas” econômicas. Começando pelo nome “reforma”. É bastante forte e causa a sensação de que as mudanças serão grandes ao ponto de mudar o modelo sócio-econômico-político da Ilha. Na verdade o termo utilizado pelos cubanos é “atualização”. Atualização econômica do modelo planificado socialista. Isto é ou não é muito mais brando do que o que é propagado em terras tupiniquins? Não só mais brando, como também dotado de um sentido completamente diferente, até oposto.
                Neste sentido, este pequeno ensaio procurará desmascarar a mídia golpista e apresentar o verdadeiro projeto de atualização econômica de Cuba. Projeto de tremenda importância histórica para a luta dos trabalhadores pela liberdade e pela justiça social. Já que, caso apresente-se funcional, abrirá um novo caminho na luta do comunismo marxista contra a exploração do capital e, certamente, será uma nova experiência revolucionária a ser estudada, aumentando assim, as já numerosas lições históricas que o dito “socialismo real” já deixou para a humanidade.

                Um projeto de caráter popular

                Imaginem uma situação hipotética agora. Os Estados Unidos estão em crise, a economia está estagnada, o país sofre pela falta de recursos e o povo está ficando cada vez mais pobre. Os bancos estão quebrando e os serviços de saúde e educação, se deteriorando. Então o governo resolve dar um basta a essa crise. Especialistas pensam em novas formas de se dinamizar a economia, então levam a discussão a cada posto de trabalho, ouvindo o que cada trabalhador tem a dizer. Depois criam livretos com todas as propostas econômicas e distribuem em massa para a população, incentivando o diálogo. Após uma série de críticas e sugestões vindas do povo, o projeto finalmente vai ao Congresso para ser votado.
                Imaginaram? Não é um belo de um projeto democrático e popular? Mas será que isto poderia acontecer nos Estados Unidos? Obviamente que não. No entanto, é exatamente isto que a “ditadura sanguinária” de Cuba está fazendo.
                De acordo com o Partido Comunista, este processo teve início ainda em 2005, quando Fidel Castro fez um discurso acerca dos “problemas internos” que acabariam por sepultar a Revolução. Depois, em 2007, Raúl Castro anunciou que o governo estava analisando possíveis mudanças na economia cubana. Já em 2008, as discussões foram levadas do governo para o “interior de cada setor produtivo e social”, onde coletou-se as opiniões dos trabalhadores. Por fim, criou-se os pequenos livros [1] de 32 páginas com todas as propostas já discutidas e, estes livros, começaram a ser distribuídos para a população no fim de novembro do ano passado. O objetivo é levar o debate para o povo cubano e, depois, para o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, em abril de 2011. [2]
                Ainda de acordo com o PC, o documento não está fechado, pois ele recolherá mais uma vez “opiniões e sugestões que serão discutidas e aprovadas pelos delegados ao VI Congresso”.
                Tais informações são fundamentais para a compreensão deste projeto de atualização econômica em Cuba, que é imbuído de um caráter totalmente popular.

                Espantando o fantasma soviético

                A revolucionária República de Cuba foi criada em 1959, após a derrubada do regime ditatorial de Fulgêncio Batista. Pouco tempo depois, os cubanos resolveram seguir o caminho do socialismo. Naquela época, a União Soviética logo tratou de apoiar o regime cubano. Lembremos que em 1959 a política soviética era dominada pelos revisionistas. Portanto, as estruturas econômicas de Cuba tiveram influência do revisionismo, além do fato da economia da Ilha ter se tornado um “apêndice” da soviética, ou seja, não era independente e auto-suficiente, dependendo enormemente da importação do açúcar cubano por parte da URSS.
                Este modelo econômico, apesar de problemático, tinha seus pontos positivos. Como, por exemplo, a proteção da Ilha contra o grande capital internacional e propiciar o desenvolvimento dos sistemas de saúde, educação, seguridade social, segurança pública, entre outros. No entanto, suas limitações são enormes. Primeiro porque a dependência econômica de Cuba em relação à União Soviética era absurda, com o colapso soviético, a economia cubana foi completamente destroçada. Segundo, o modelo revisionista era por demais centralizado e distante dos trabalhadores. Uma burocratização tremenda, que privilegiava os técnicos estatais em detrimento das aspirações populares. Sem contar que a burocracia, além de tudo, criava situações absurdas e uma ineficiência terrível. Tudo precisava ser aprovado pelo ministro, desde preços de produtos a salários de trabalhadores. Imaginem o tanto de demanda, agora imaginem a lentidão do processo. Tornou-se insustentável. Por fim, é interessante dizer que a economia revisionista era um misto nada harmônico de planificação com mecanismos de mercado, uma mistura que tornava o plano impreciso e pouco eficiente. [3]
                Portanto, as atualizações econômicas vêm para espantar de vez o fantasma soviético que ronda a economia cubana, varrer para o lixo os resquícios do revisionismo, para que então seja possível estabelecer uma economia mais eficiente e mais próxima das aspirações populares, uma economia que fortaleça o caminho revolucionário de Cuba em direção a uma sociedade comunista.

                As bases da atualização econômica

                A atualização econômica cubana rejeita o modelo capitalista como resposta para seus problemas. De acordo com os lineamientos propostos: “A política econômica na nova etapa corresponderá com o princípio de que só o socialismo é capaz de vencer as dificuldades e preservar as conquistas da Revolução, e que a atualização do modelo econômico primará pela planificação e não pelo mercado”.
                Isto não quer dizer que o Estado continuará como o dono de todos os meios de produção, a propriedade privada será restaurada. Para aqueles comunistas que se indignarem com isto e já apontarem os dedos acusadores para os cubanos – “Seus revisionistas!” – cabe dizer que na URSS de Stálin mais de 20% do PIB vinha da propriedade privada. Mas a propriedade privada legal, a pequena propriedade, como, por exemplo, a dos camponeses dos kolkhozes e sovkhozes que podiam possuir animais e um pedaço de terra para produzir e vender, complementando assim seu salário.
                A pequena propriedade privada serve, no caso cubano, como um alívio para o Estado. Da maneira que a economia foi constituída em Cuba, o Estado não consegue gerir a economia com eficiência e os gastos são gigantescos, já que se perde muito por falta de produtividade, por desperdício e mesmo pelos efeitos que a falta de recursos causam – como, por exemplo, a perda de poder de compra da população. Além disso, o Estado controla uma série de pequenos serviços como barbearia, táxi, sapateiro e outros tipos de serviços que não faz muito sentido serem mantidos sob a tutela estatal e sob os grandes planos econômicos, já que não tem um caráter público de peso e não são negócios que primam por grande uso de mão-de-obra. No entanto eles pesam nos cofres públicos. E o surgimento da pequena propriedade privada legal certamente aliviará o Estado, liberando mais verbas para setores mais importantes em um país socialista, como a educação e a saúde.
                Outra base da atualização econômica é o fim do igualitarismo. O igualitarismo no sentido já discutido neste blog, aquele que iguala salários, iguala tudo [4]. O igualitarismo “burro”. Em contrapartida a ele, será implantando o velho sistema já adotado pelos bolcheviques, de remunerar o trabalhador de acordo com sua produtividade. Quanto mais produtivo, maior o salário. Isto não quer dizer que a igualdade será abolida, todos continuarão sendo realmente iguais perante a lei e iguais em direitos políticos, civis, sociais, econômicos, culturais, etc. De acordo com os linieamientos:  “Na política econômica que se propõe está presente que o socialismo é a igualdade de direitos e a igualdade de oportunidade a todos os cidadãos, não o igualitarismo. O trabalho é, por sua vez, um direito e um dever, motivo de realização pessoal para cada cidadão, e deverá ser remunerado conforme sua quantidade e qualidade”.
                De modo geral, a nova política econômica cubana pode ser definida como uma economia mista em que o Estado regula a existência dos negócios privados. Mas não chega a ser igual a China, como muitos podem pensar. A China é invadida por grandes corporações estrangeiras e, por lá, o capitalismo se desenvolve a toda força. Em Cuba não, apenas pequenas propriedades privadas serão permitidas, e o povo já conta com várias instituições populares (sindicatos e a Assembléia Popular, por exemplo) para fiscalizar a atividade capitalista de modo que não produza grandes níveis de desigualdade social e para que não haja exploração desmedida sobre os trabalhadores do setor privado. A atualização econômica cubana se aproxima muito mais da NEP de Lênin, não tendo muita semelhança com a situação chinesa.

                Conclusão

                Este breve artigo buscou sanar algumas das dúvidas mais correntes acerca das atualizações econômicas em Cuba, salientando que o capitalismo não será restaurado como muitos vêm apontando ao longo destes últimos meses. Os direitos sociais, econômicos e políticos dos cidadãos cubanos permanecerão inalterados e mais, esta nova política econômica não foi uma ordem imposta de baixo para cima pela “burocracia” cubana, mas sim, uma política de caráter totalmente popular e democrática, baseada em uma longa discussão (que ainda prossegue neste exato momento) entre técnicos do Estado, trabalhadores e todos os outros setores da sociedade.
                Na verdade, todas as propostas presentes nos lineamientos não são nem definitivas e estão sujeitas a modificações por parte dos cidadãos cubanos. Portanto, de maneira alguma estas reformas representam o que a mídia ocidental em geral tem pregado ao longo dos últimos tempos. Porém isto não quer dizer que ela não seja passível de críticas por parte dos militantes comunistas de todo o mundo, a crítica é sempre saudável. Mas quando é construtiva e não apenas ataques infundados baseados no ultra-esquerdismo. Recomendo que cada um dos leitores estude com atenção o proyecto de lineamientos disponível no link logo abaixo e tire suas próprias conclusões.
                Hasta la Victoria, siempre!

[3] Ver “Causas do fim da União Soviética, Parte II”: http://mamayev-kurgan.blogspot.com/2010/10/causas-do-fim-da-uniao-sovietica-parte.html e “Restauration of Capitalism in the USSR”: http://www.oneparty.co.uk/html/book/ussrmenu.html

terça-feira, 15 de março de 2011

O Calar das Vozes

Hoje enviarei um post diferente de todos os outros. Normalmente escrevo aqui minhas impressões pessoais, ou coloco artigos e entrevistas. E o conteúdo é sempre acerca da história do socialismo. Mas hoje vou mudar um pouco isso, vou postar um pequeno conto de minha autoria, cuja temática coincide um pouco com a do blog. Espero que gostem.

O Calar das Vozes


Tudo se movia rápido demais à sua volta. Tudo brilhava demais, fazia barulho demais. Ele se sentia sozinho em meio aquele mundo caótico e pecaminoso. Mortes? Cada vez mais banais. E se fossem de pobres ou moradores de rua eram uma bênção. Fome? Que isso? Só morrem de fome os vagabundos. Guerras? Tem que matar os bandidos e os terroristas mesmo. Bando de vermes que querem acabar com a gloriosa civilização ocidental.

Chamam isso de democracia. Mas onde estão as vozes contrárias? Aqui e ali, sendo cada vez mais sufocadas. As pessoas são bombardeadas desde pequeninas pelas propagandas ideológicas do sistema, todas mascaradas de verdade pela mídia. Esta que é cada vez mais concentrada nas mãos de poucas grandes corporações. São “notícias”, veiculadas pela imprensa “livre” e por jornalistas “não-ideológicos”. O que eles espalham é a verdade pura e simples. Ao contrário dos esquerdistas que infectam o mundo com suas ideologias.

Bem, não infectam mais. A esquerda já não passa de uma ala um pouco menos radical da direita. Querem um capitalismo “mais humano”. Nega-se ou apaga-se da memória toda a história de lutas e vitórias dos movimentos progressistas e revolucionários. Não se produz e não se financia pesquisas que analisem esta história, estes benefícios ficam a cargo apenas daquela escolazinha fechada de acadêmicos que ficam contabilizando todas as mortes em regimes socialistas e colocando-as sob as costas de sua ideologia. Todos os estudos sérios já feitos sobre este passado da humanidade são abandonados e apagados da memória coletiva, já que eles vão de encontro à “não-ideologia” dos regimes modernos.

Ele parou, angustiado. Sentindo-se com um pária, como um ser de outro mundo, enquanto observava aqueles gigantescos telões e letreiros coloridos para todos os lados. Jamais na história da humanidade surgira métodos tão eficientes de controle da população. Isto é bonito, isto é feio, isto é certo, isto é errado, isto é ético, isto não, isto é ditadura, isto não. Para onde se olha há o controle. Um controle de novo tipo, muito mais perigoso e aterrador do que qualquer outro já utilizado. Não é mais tanto pelo terror, pela força, pela subjugação, isto tornou-se secundário já há alguns anos. O controle do século XXI é sobre a mente dos homens, sobre seus sentimentos, sobre sua... Alma.

E como todas as atrocidades que a humanidade já cometeu, esta nova situação surgiu da ingenuidade, da falta de visão, da irracionalidade. Não há uma mão maligna por trás de tudo isso como muitos já gostaram de propagar. Não há um “Grande Irmão”. Não há um centro de poder, nada disso. Os erros de nossa débil espécie se repetem, sempre se repetem. Cada um de nós é um “Grande Irmão”, cada um de nós é responsável por nosso mundo, nossa civilização. A história não é aleatória, não tem vontade própria, muito menos ela se resume às ações dos “Grandes Homens”. Eles não passam de pequenas partes de um todo, de minúsculas polias de uma gigantesca engrenagem chamada sociedade. E esta engrenagem... Esta engrenagem nunca recebeu o óleo necessário para seu funcionamento harmonioso. Nunca.

Isto porque cada polia sempre quer ter um papel maior que a outra, sempre quer se sobrepor a outra. Elas tendem a monopolizar a maior parte do óleo para que elas funcionem melhor em detrimento das outras. Se acham superiores por algum motivo. Talvez seus dentes sejam mais compridos, ou mais grossos, pode ser que seu diâmetro seja maior ou que ela se encontre em uma parte mais alta, quem sabe mais complexa, da engrenagem. Então, por causa deste sentimento mesquinho e primitivo, elas comprometem todo o funcionamento do complexo mecanismo social. Querem se mover mais rápido, querem ditar o ritmo de todas as outras, ou simplesmente querem danificar qualquer outra polia que possa ameaçar sua posição.

Este tipo de atitude pode até gerar admiração por parte de outras polias, já que estes mecanismos “superiores” parecem trazer certo bem, talvez um funcionamento mais rápido. No entanto, o que as polias nunca aprendem é que, ignorar o funcionamento do mecanismo como um todo, no futuro, gerará desgraça. As polias da base do sistema, que são humilhadas e subjugadas devido à ânsia por mais óleo de suas companheiras “superiores”, acabam ficando sem lubrificação um dia. Seus dentes começam a quebrar, a enferrujar. Muitas perecem por causa disso. E o mecanismo como um todo começa a entrar em descompasso. E então ele quebra. E as polias lá de cima, que se acham tão importantes e superiores às outras, encontram exatamente o mesmo fim. Pois, querendo ou não, elas fazem parte de um todo. E só existem por causa disso.

“Civilizações vão e vem, mas os homens nunca aprendem...” – murmurou o pária social em um tom melancólico.

Os erros se repetem. Isto não saía da mente dele. Não só os erros das polias de cima, elas não são a mão maligna por trás do sistema. O que os separa da maioria das polias do resto do mecanismo é que elas tiveram sucesso estrondoso em se sobrepor às demais, mas este tipo de comportamento se repete até a base. O mecanismo é inseparável de uma peça individual. O que uma faz, outras tendem a fazer. Seja por exemplo, por vingança, por revolta ou qualquer outra razão. A razão não importa, o cerne da questão é que a civilização humana desde muito tempo se baseou em uma luta encarniçada de polias individuais por mais óleo para elas mesmas em detrimento das outras.

O homem recostou-se na parede de um beco escuro. E sua mente funcionava em uma efervescência cada vez maior.

E todo este comportamento das polias, ele seguiu raciocinando, não dependia de uma natureza ideal e homogênea delas. Não há lugar para determinismos no mundo. Uma polia não existe sem a outra, isto é a base do mecanismo social: a interdependência. Uma engrenagem só gira porque há outra girando e assim por diante. Se uma delas passa a concentrar mais lubrificante que a outra, a tendência é que todas passem a lutar por isto, mesmo que inconscientemente. O que isso gera? Um ciclo. Pois as engrenagens lutam, lutam, lutam até que o mecanismo é desregulado e para de funcionar. As “vitoriosas” então percebem que de nada adianta concentrar todo o óleo, pois elas não têm condições de mover todo o gigantesco mecanismo sozinhas. Então um pouco de óleo é despejado paras as “perdedoras”, que começam a se movimentar novamente em busca de mais óleo e em busca de vingança. Algumas delas eventualmente se tornam “vencedoras” e passam a concentrar todo o lubrificante nelas. O sistema desmorona novamente. E isto segue indefinidamente, mas não eternamente.

“É possível quebrar isso, é possível!” – exclamou o pária, em um raro momento de otimismo.

Mas apenas em momentos de crise, quando tudo entra em colapso. O óleo deve ser despejado igualmente para todas, para que haja harmonia no funcionamento. E um mecanismo harmônico gera solidariedade e cooperação entre suas peças, pois elas passam a perceber que trabalhar em conjunto é muito mais eficiente do que sobre a ruína dos outros. As coisas podem não seguir da maneira que se espera no começo, certamente polias individuais com grande concentração de lubrificante podem atingir velocidades estonteantes e criarem uma certa sensação de progresso. Uma falsa sensação. Pois uma hora todo o mecanismo sucumbirá por causa disso. No entanto, se todas cooperarem persistentemente por um bom período de tempo, o mecanismo começará a funcionar melhor, a velocidade aumentará exponencialmente e todo o sistema chegará ao máximo de sua capacidade com a máxima dedicação de cada uma de suas engrenagens.

“O problema é que o mecanismo funciona de maneira incorreta há tanto tempo que as polias acham que não há outra maneira, que esta é a única, é a verdadeira, é a correta.” – sussurrou o homem, enquanto se aprofundava ainda mais na escuridão do beco. Sirenes podiam ser ouvidas ao longe, ecoando nas ruas da cidade. “Assim se formou o dogma do ‘livre mercado’. E dogmas geram prisões. E prisões geram conformismo, pelo menos na maioria das pessoas. Conformismo gera conservadorismo. Conservadorismo gera estagnação.”

Uma viatura passou velozmente em frente ao beco. O homem pulou atrás de uma lixeira.

“Estagnação.” – repetiu o pária. “As pessoas se prendem a um único modo de ver o mundo e não conseguem sair dele. Por se sentirem ameaçadas ao ver o que acreditam ruir, propõem reformas, mas elas nunca vão ao cerne da questão. Jogam um oleozinho para os menos favorecidos e as coisas voltam a funcionar da velha maneira truncada e deficiente. No entanto, em sua essência, o dogma não cai. E o ciclo impiedosamente voltará a repetir-se. Será esta a sina da humanidade?”

Um estridente som de pneus freando explodiu nos ouvidos do homem. Ele engoliu em seco. Agora a ré fora engatada. As luzes da viatura aproximavam-se cada vez mais.

“Creio que sim...” – refletiu o homem, desconsoladamente. “Se depois de tantas trágicas repetições na história não aprendemos como espécie, como organismo coletivo, quando aprenderemos?”

O carro então parou em frente ao beco. Uma luz forte e esbranquiçada luz iluminou tudo à volta do pária. Ele se espremeu atrás da lixeira. Sentindo a terrível dor de que mais uma voz contrária ao dogma seria silenciada. Que mais uma vez, o ciclo se repetiria.

Passos se aproximaram vagarosamente. Não havia pressa. Não havia saída também. A figura altiva de um oficial de polícia dominou o campo de visão do homem. Agora, sem chances de escapar novamente, ele apenas levantou-se orgulhosamente. Peito estufado, feições duras, punhos cerrados e medo subjugado pela razão. Se seu fim estava próximo, que enfrentasse seu fim com honra, para que pelo menos seu exemplo servisse para os poucos lutadores da liberdade que ainda restavam...

Não houve qualquer troca de palavras, nem qualquer tentativa de prisão. Apenas um estrondo altíssimo. E o senso de dever cumprido.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Reflexões sobre o mundo contemporâneo

Após um longo tempo inativo, retorno para compartilhar mais uma postagem aqui no Mamayev Kurgan. Nestes últimos meses me faltou criatividade e ânimo para escrever aqui, peço desculpas para aqueles que acompanham o blog com frequência, se é que alguém faz isso... Hahahaha! Mas enfim, vamos ao post.

Reflexões
 
Lênin permanece atual
Há um bom tempo venho pensando sobre a situação do mundo contemporâneo e, toda vez que faço isso, a imagem de Lênin surge em minha mente. Principalmente por causa de suas teses sobre o Imperialismo e de sua firme crença no colapso do capitalismo internacional no início do século XX. Naquela época, há quase um século, o mundo vivia uma enorme crise civilizacional e não era privilégio do camarada Lênin o sentimento de que o sistema sócio-econômico-político estava prestes a desmoronar. Várias pessoas das mais diversas crenças e ideologias conseguiam interpretar os sinais dos acontecimentos à sua volta: ele apontavam, invariavelmente, à destruição dos velhos paradigmas e das velhas crenças do homem comum da Belle Époque. Disputas agudas entre nações por recursos estratégicos, revoltas populares fervilhando em antigos e tradicionais impérios, aumento da intolerância em relação ao outro, crescimento desproporcional do individualismo extremado, guerras, completa falta de valores éticos e morais, entre tantos outros problemas.

No entanto, a maioria das pessoas seguia suas vidas sem notar muita diferença. Ainda acreditavam em seus sistemas, em seus líderes e em suas velhas crenças. Achavam que as guerras, as revoluções, as disputas coloniais e as lutas pela independência nacional eram apenas pedras no caminho do inevitável progresso da civilização ocidental. Afinal, era isto que os meios de comunicação pregavam, que os governos e os líderes defendiam, que os professores ensinavam e que a sociedade como um todo concordava. O que devia ser feito para superar essa época era simplesmente eliminar os inimigos e os povos atrasados que interrompiam o caminho do desenvolvimento, com isto feito, a Belle Époque poderia ser mantida em toda sua glória e esplendor.

Aqueles que afirmavam (corretamente, diga-se de passagem) que uma era chegara ao seu fim eram colocados às margens e dificilmente eram ouvidos. O conservadorismo era forte, muito forte, pois as classes dominantes eram fortes e, aparentemente, inabaláveis em suas fortelezas luxuosas. E a ideologia destas classes, o liberalismo, era divinizada e entoada aos quatro cantos do mundo como a ideologia suprema que guiaria a raça humana ao progresso indefinido. Progresso, sempre o progresso. Palavra-chave para se compreender a Belle Époque, as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX. A humanidade tinha a crença aparentemente inabalável de que o capitalismo estaria sempre em expansão, sempre desenvolvendo mais e mais a civilização. Eram os anos dourados da ciência, da economia de mercado e da civilização ocidental como um todo.

A Primeira Guerra Mundial veio para sepultar todas estas crenças. O grande modelo civilizacional ocidental agora mostrava sua verdadeira face, a qual buscara esconder por tantas décadas. A face do ódio, da destruição, do genocídio, da ganância desmedida, da escravização, da tirania, do terror, do individualismo, do fanatismo. Milhões e milhões de companheiros lançados uns contra os outros em campos de batalha monstruosos. Bombas. Armas químicas e bacteriológicas. Extermínios. Execuções em massa. A grande bárbarie da guerra mundial chocou o mundo, e era apenas o começo.

Veio a maré da Revolução Russa. Liderada pelos bolcheviques, a revolução foi como um gigantesco terremoto que abalou o mundo inteiro. Em meio ao terror proporcionado pelo liberalismo "democrático", um farol de esperança despontava no arcaico Império Russo. A vitória do sofrido povo russo inspirou as pessoas de todos os cantos do globo, e uma conturbada época de levantes pela independência de várias colônias se seguiu, além do acirramento da luta de classes, mobilizando mais e mais trabalhadores em seus protestos e em suas lutas para libertarem-se dos grilhões imputados pela exploração de sua força produtiva. A velha ordem parecia ruir, e Lênin surgia como o grande profeta da renovação. A crise de 1929 e a desesperada resistência imputada pelo fascismo apenas pareciam confirmar o que o pequeno e astuto russo defendera em sua vida: o capitalismo tinha seus dias contados.


Bom, e neste momento o leitor se pergunta - e o que diabos isto tem a ver com o mundo contemporâneo? Eu respondo - tudo a ver. As semelhanças entre o ínicio do século XX e o início do século XXI são gritantes. Não digo que a história está se repetindo, mas que há alguns fatores em comum, ou melhor, há sinais em comum. Manifestações de intolerância e ódio, revoltas, guerras, conservadorismo exacerbado, crise econômica. Para onde olhamos há conflitos étnicos, revoltas populares, invasões injustas e de caráter neocolonial, manifestações e protestos em massa do proletariado, acirramento de concepções retrógradas do liberalismo (como redução dos direitos trabalhistas e cortes de gastos sociais), aumento da intolerância em relação às pessoas diferentes, falta de moral e princípios éticos, etc.

E, no entanto, somos bombardeados por "informações" que insistem em dizer o quanto estamos bem e como o capitalismo é benéfico e vem melhorando as condições do mundo, o único problema é que existe resistência, há inimigos bárbaros e monstruosos que impedem o progresso da civilização. São estes os terroristas ou os membros do Eixo do Mal, ou qualquer outra coisa que seja eleita pelo grande capital como ameaça. E é nisto que a maioria das pessoas acredita, acham que conservar o atual modelo é o único caminho, pois o capitalismo é, supostamente, o único sistema que "funciona". O liberalismo, o livre mercado, são intocáveis e voltaram com muito mais força após a queda da URSS.

Percebem a semelhança?

Vivemos em um momento de crise civilizacional aguda, e tais momentos compartilham semelhanças ao longo da história da humanidade. Mas a proximidade com o que ocorreu no século XX é ainda maior, pois é basicamente o mesmo modelo que está em crise novamente, o modelo liberal. Ele já se mostrou ineficaz anteriormente, com pelo menos três grandes crises (sendo a mais terrível a de 1929), e agora se mostra ineficaz novamente. Está mais que provado que o capitalismo gera contradições que o tornam insustentável, não só pelos escritos do velho Marx, como também pela própria experiência prática ao longo dos séculos. Seu sustentáculo reside no poder da classe dominante, a burguesia. Apesar de ter sofrido alguns baques com as lutas do século passado, ela ainda detém muita força e desalojá-la é uma tarefa árdua. Porém, sua decadência é clara. Pouco a pouco suas reservas são erodidas, a cada crise se enfraquecem mais.

Portanto creio que, por todos os sinais que observo no mundo contemporâneo, o século XXI será bastante conturbado e a luta de classes mais uma vez se acirrará. Os escritos de Lênin, em grande parte, continuam atuais e cabe aos movimentos comunistas de todo o mundo estudá-los com afinco para que possam se aproveitar deste momento de crise e de enfraquecimento da burguesia. Mais uma grande janela de oportunidade se abre aos militantes progressistas dos quatro cantos do globo, resta saber se será aproveitada. Para isto ocorrer, é necessário que haja uma clara compreensão dos erros do século passado, para que desta vez, os grilhões do capitalismo sejam finalmente destroçados e as classes e os povos oprimidos de toda a Terra possam elevar-se ao poder.