terça-feira, 12 de outubro de 2010

União Soviética, 1932 (O dia-a-dia no país dos Sovietes) Parte II



Após falar um pouco de Moscou, Sir Newsholme começa a descrever suas impressões acerca de Leningrado. Todavia, ele apenas menciona as instituições voltadas à saúde pública, sem desenvolver muito mais do que isso. Ele direciona muitos elogios aos hospitais, clínicas, etc., afirmando que são bastante modernos e bem capacitados. E aí termina o primeiro capítulo do livro.

O segundo chama-se "De Moscou para a Geórgia e Criméia". Este capítulo basicamente narra a viagem do britânico em um barco através do Volga, viagem a qual ele visita uma série de cidades e de diferentes regiões soviéticas. De acordo com ele, o barco estava sempre lotado; entravam muitas pessoas e saíam bastante também a cada parada. A maior parte dos passageiros eram de camponeses pobres, cheios de caixas, frutas, animais. Muitas coisas as quais eles venderiam em algum centro urbano. A embarcação seguia tão lotada que muitos dormiam no convés mesmo. Ao que parece ela tinha quatro classes, reflexo de uma União Soviética ainda em desenvolvimento e ainda marcada pelas diferentes classes sociais: operários, camponeses pobres, kulaks, estratos médios (como funcionários da administração estatal), entre outras. A primeira e segunda classes ofereciam certo conforto, já a terceira ficava mais apertada enquanto que a quarta ficava no convés do navio mesmo.

Sir Newsholme segue descrevendo no capítulo suas visitas a várias cidades, sempre focando nas questões relativas à saúde. Da Geórgia à República dos Tártaros e à Ucrânia. Suas impressões são de que o desenvolvimento e a modernização estão chegando até nas menores e menos importantes partes da nação, não sendo Moscou e Leningrado lugares privilegiados por sua centralidade e importância. Todavia o que importa mesmo neste capítulo são alguns episódios que ocorreram dentro da embarcação. Como, por exemplo, a sabotagem terrorista ocorrida em uma ponte sobre o Volga.

Após o barco passar por Samara, ele aproximou-se de uma vila chamada Batraki, onde havia uma ponte ferroviária que atravessava o Volga. Uma ordem soou no barco para que todos buscassem abrigo. O britânico então revela que dois vãos da ponte haviam sido explodidos por terroristas. Os soviéticos disseram então que de tempos em tempos ainda haviam ataques contra-revolucionários. O que é algo revelador, já que normalmente se trata o perigo da contra-revolução como paranoia dos comunistas, o que de fato nunca foi. Pois os casos de sabotagem, assassinato de políticos importantes, espionagem, etc., eram muito comuns na URSS.

A viagem segue, e o britânico encontra um financista americano de Wall Street. Ele vinha visitando as novas indústrias que vinham sendo montadas na União Soviética e, nas palavras de Sir Newsholme, o americano estava tão impressionado com as indústrias soviéticas quanto ele próprio estava com o sistema de saúde pública. O que mais impressionou o americano foi a liberdade a qual os trabalhadores tinham em criticar os gestores das fábricas e seus companheiros de trabalho. Para o homem de Wall Street, o sucesso da experiência soviética dependeria em larga medida desta liberdade de crítica individual - opinião a qual eu também compartilho. Mas nem tudo eram glórias, o homem de negócios viu bastante ineficiência nas fábricas visitadas, porém completou que era do tipo que logo seria remediada.

Quanto a vida comum, Sir Newsholme continua batendo na tecla da felicidade das pessoas. Das cantorias, da hospitalidade, do calor humano e da importância da socialização das pessoas. No fim da primeira parte deste capítulo, ele fala um pouco sobre a vida noturna em Stalingrado. As pessoas pareciam se concentrar no Parque de Cultura e Descanso, participando de festivais de música, dança folk, entre outras coisas.

A próxima parte do capítulo se chama "Através do Cáucaso Setentrional". E o britânico basicamente fala sobre como ele ficara impressionado com o progresso daquela região. Para todos os lados ele via fazendas, plantações, tratores e máquinas novas; nas cidades, novos apartamentos e casas, escolas, hospitais, etc. O desenvolvimento vinha chegando rapidamente, se espalhando pelo país mesmo em regiões antes abandonadas e pouco importantes para o poder central. Sigo então para a próxima parte, "Geórgia Subtropical". Aqui Sir Newsholme fala mais sobre suas visitas a sovkhozes (Fazendas do Estado) e a kolkhozes (Fazendas de cooperativas).

Esta parte é bastante interessante, pois mostra a preocupação dos soviéticos em acabar com a velha oposição entre campo e cidade, a qual Marx e Engels viam como uma das grandes contradições do capitalismo. As fazendas, sejam cooperativas ou estatais, eram basicamente cidades rodeadas de gado e/ou plantações. Havia apartamentos e residências, escolas, hospitais, creches, enfim, tudo que cidades normalmente possuíam. Os trabalhadores viviam nas fazendas, assim como os administradores e gestores. Cada propriedade rural era um mini centro urbano.

Em uma destas fazendas, um enorme e bem administrado kolkhoze, que consistia da junção de 153 pequenas fazendas, ocorreu uma cena do dia-a-dia que achei bem interessante. Na visita de Sir Newsholme a uma creche do kolkhoze, ele foi acompanhado pelo Secretário do Partido Comunista da região da Geórgia. O britânico disse que ele era amado pelas crianças e que, quando entrou na sala onde elas se encontravam, as saudou com:

"Vocês estão prontos para o trabalho e a defesa?"

E os pequenos se levantaram e o saudaram, respondendo:

"Sempre prontos!"

Ao que parece era uma tradição no país, repetida por todos os lados. Sir Newsholme disse que vira por toda a nação cartazes com o lema de que cada cidadão soviético devia estar pronto para o trabalho e para a defesa.

Esta parte do capítulo termina com o britânico descrevendo as redondezas de Batum, que fica no Mar Negro. Ele disse que havia muitos palácios luxuosos que um dia pertenceram a nobres e a realeza russa, mas que agora eram hotéis voltados aos trabalhadores. Era hábitos dos trabalhadores soviéticos, durante suas férias, viajarem para esses antigos palácios para apreciarem a boa vida da falecida e opulenta classe dominante do Império. Boa parte dos custos da viagem eram pagos pelos sindicatos, cerca de 30%.

Daí chega-se a próxima parte do capítulo, "No Mar Negro". Nesta parte, Sir Newsholme conversa com uma série de pessoas proeminentes da União Soviética, falando desde a liberdade de imprensa até aspectos do trabalho. Ao discutir sobre a liberdade de imprensa, Sr. Minkow, um dos editores da Rádio Jornal do Trabalho, diz que há espaço para tudo que não seja "contra-revolucionário" ser publicado. Ou seja, não havia espaço para publicações anti-soviéticas e anti-comunistas. O britânico também conversou com a doutora Olga Borisowna Lepeschinskaya, professora de Histologia na Academia Comunista de Moscou. Ela fala sobre as "brigadas de choque", que eram utilizadas para aumentar a produtividade entre os trabalhadores. Elas consistiam de grupos de trabalhadores que competiam entre si para ver quem produzia mais, os mais produtivos obviamente eram premiados. Quem seria ou não premiado era tópico de discussão nos "encontros de produção" de todos os trabalhadores de determinado local. Esta lógica era aplicada nos mais variados ramos, inclusive no ramo científico e acadêmico o qual Olga fazia parte. Outro ponto discutido é o dos jornais de parede, presentes em todos os ambientes de trabalho. Newsholme não fala muito deles por agora, mas diz que eram instrumentos para as críticas individuais de cada trabalhador acerca de todo e qualquer problema que ocorresse no ambiente de trabalho.

No último ponto que julgo importante nesta parte, o britânico fala sobre o enorme e luxuoso palácio de Livadia, que antes pertencia ao próprio Czar. Após sua expropriação, foi transformado em resort de férias para os operários e camponeses mais produtivos. Certamente viver na residência de Imperadores por algumas semanas deveria ser uma experiência e tanto para trabalhadores comuns.

O capítulo acaba com "A Capital da Ucrânia", parte a qual o britânico fala sobre Kharkov. Basicamente se detém só nas questões de saúde pública e não fala nada muito interessante para mim. E aqui acaba as observações de maneira mais geral. No próximo artigo, procurarei falar especificamente sobre as condições das indústrias na União Soviética.

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