quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os atentados terroristas na Rússia e a fracassada política de nacionalidades

Já ouvi e li alguns comentários acerca da atual política de nacionalidades da Rússia, inclusive de professores universitários, e todos eles não me pareceram muito convincentes. Já que - como todo os problemas que a Rússia teve desde 1956 - é sempre culpa de Stálin, mesmo que o dirigente soviético esteja morto a mais de meio século. Isso é um assassinato terrível à História, não digo nem aos fatos em si, mas sim a toda a teoria em que baseia-se o conhecimento histórico. A História é um processo, acontecimentos são determinados por uma série de fatores diferentes, não por apenas um. Jogar toda a culpa em uma pessoa de um passado distante é uma boa maneira de se livrar dos problemas atuais, ou de tirar o rabo da reta como se diz por aí.

O fato é que com a decadência do socialismo soviético, os líderes russos que começaram a surgir não passavam de bandidos preocupados apenas em enriquecer e ter cada vez mais poder. E assim desmantelaram um Estado internacionalista em que a palavra "xenofobia" era um palavrão dos mais terríveis e que a cooperação entre os diversos povos que formavam a União era incentivada.

Desde seus tempos de Comissário do Povo para as Nacionalidades, Josef Stálin defendia uma política de integração entre russos, georgianos, ucranianos, cazaques, etc. Sua idéia nunca foi segregar cada povo em suas próprias Repúblicas egoístas, incentivando o estúpido nacionalismo que move tantos conflitos e guerras. A idéia era que os povos soviéticos eram povos irmãos, que deviam de mãos dadas caminhar rumo a construção do comunismo. Alguns direitistas inescrupulosos adoram chamar a política "stalinista" de "russificação" da URSS, porém isso é olhar apenas para um lado da moeda e ignorar o outro. Sim, os russos se espalharam por todas as Repúblicas, assim como os cazaques, os ucranianos, os chechenos, etc. Era uma política clara de integração, não de segregação. Assim grandes operários russos iam ajudar as fábricas cazaques e jovens cazaques iam estudar em notáveis universidades russas. E assim por diante. Os povos estavam sempre em contato entre si - inclusive estrangeiros não-soviéticos, já que as universidades soviéticas acolhiam centenas de milhares de estudantes africanos, latinos e de praticamente todos os países subdesenvolvidos - e portanto o clima não era favorável a manifestações mesquinhas de nacionalismo que vemos no mundo capitalista.

Além disso, havia garantia de empregos, residência, educação, saúde, transporte, etc, a todos os cidadãos soviéticos. Não importando se eram siberianos no Tadjiquistão ou georgianos na Ucrânia. Com o incentivo à integração dos povos - maldosamente chamada de "russificação" -, com todos os benefícios aos trabalhadores soviéticos e sem a exploração de minorias étnicas, a URSS conheceu várias décadas de estabilidade e desenvolvimento, em que você não via um cidadão ser menosprezado por ter cara de chinês e não de eslavo, por ser mais escuro e não mais claro.

É claro que por ter mais russos do que qualquer outra etnia, os russos se espalharam mais por todo o território soviético, dando a falsa impressão de russificação da nação. Mas as outras etnias não foram subjugadas ou menosprezadas neste processo. Elas possuíam os mesmos direitos que os russos e os mesmos benefícios. E ainda há o outro lado da moeda que já mencionei, que as outras etnias se espalharam pela nação também. Criando uma harmonia entre os povos.

Diferente do que vemos hoje em dia. Com a formação de diversas Repúblicas independentes e capitalistas, a retórica nacionalista voltou à tona, abandonando-se o internacionalismo. As crianças já não aprendiam mais que eram soviéticas e que todos os outros povos à sua volta eram seus irmãos. Agora elas aprendem que são ucranianas ou georgianas e que os russos são malvados e os chechenos são pessoas primitivas e bárbabaras que acreditam no Islã. Na Rússia, mesma coisa. As crianças são russas e devem ter orgulho disso. Devem achar que tudo deve ser feito pela Rússia e pela "democracia". E assim por diante. A semente da desunião é implantada desde o nascimento das pessoas. O nacionalismo leva a um povo achar que é superior aos demais, o que leva a um problema maior ainda: a subjugação.

O povo superior acaba achando que deve levar sua civilização aos bárbaros e forçá-los a engolí-la. Logo a Chechênia passa a ser vista como uma republiqueta de bárbaros infiéis que deve ser explorada pelo bem da Mãe Rússia. E do outro lado, o nacionalismo checheno leva aos chechenos a verem os russos como criaturas malvadas que merecem ser mortos em nome da Mãe Chechênia ou algo do tipo.

Podem culpar Stálin o quanto quiser, mas se realmente voltarmos ao seu tempo e vermos o que ele tinha para dizer veremos o quão ridícula é a Rússia atual, aliás o mundo inteiro. A política bolchevista sempre foi voltada para o internacionalismo. Nunca houve espaço para pessoas mal intencionadas virem com esses papos ridículos de nacionalismo extremado. O povo soviético era um só.

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