quinta-feira, 4 de março de 2010

A falácia do Muro de Berlim

Ano passado, o mundo comemorou os 20 anos da queda do Muro de Berlim como se o "bem" houvesse triunfado sonbre o "mal", como se a "democracia" houvesse superado a "tirania". O engraçado é que o mundo comemorou os alemães ocidentais comemoraram. Mas... Mas e os alemães orientais? Uma pesquisa feita pela Reuters em Outubro do ano anterior, revelou que 52% dos alemães orientais não apreciavam o capitalismo e que a maioria deles queriam a economia socialista de volta. Olhemos a opinião de alguns alemães orientais entrevistados:

"Nós lemos sobre os "horrores do capitalismo na escola". Eles realmente estavam corretos. Karl Marx acertou na mosca. Eu tinha uma vida muito boa antes do Muro cair. Ningúem se preocupava com dinheiro pois o dinheiro não importava. Você tinha um emprego mesmo se não quisesse um. A idéia comunista não era assim tão ruim." (Thomas Pivitt, um trabalhador de 46 anos de idade)

"Eu pensei que o comunismo era uma porcaria, mas o capitalismo é ainda pior. O livre mercado é brutal. O capitalista quer espremer mais, e mais, e mais, e mais..." (Hermann Haibel, ferreiro aposentado de 76 anos de idade)

"Eu não acho que o capitalismo é o sistema certo para nós. A distribuição de riquezas é injusta. Nós estamos vendo isso agora. As pequenas pessoas como eu é que terão de pagar esta crise financeira. E com as taxas mais altas por causa destes banqueiros gananciosos." (Monika Weber, funcionária municipal de 46 anos de idade)

"Demorou apenas umas poucas semanas para entender o que é a economia de livre mercado. É um excesso de materialismo e exploração. Seres humanos são esquecidos. Nós não tínhamos os confortos materiais, mas o comunismo ainda tinha muitas vantagens." (Ralf Wulff)

E eu me pergunto: cadê o "Estado do terror"? Das perseguições? Do "fascismo"? Cadê o amor pelo livre mercado? Cadê as vantagens do capitalismo? O Ocidente é pura corrupção e hipocrisia. É uma sociedade brutal, que mata centenas de milhões de fome por ano e que só sobrevive por causa de sua inimaginável capacidade propagandística. A História é moldada do jeito que a elite quer, joga-se por debaixo do tapete toda a podridão que os capitalistas fazem e já fizeram, dão um chá de sumiço em todas as vitórias das revolucionárias democracias populares socialistas e criam um clima de terror para o comunismo, muitas vezes sem possuírem um pingo de evidência concreta. Cadê o "Grande Irmão" do vendido Orwell? Está na URSS ou nos EUA?

De certo que a Alemanha Oriental nunca foi um "paraíso dos trabalhadores". E nada será um paraíso neste mundo. Mas o povo vinha primeiro, e não a economia. Todos tinham acesso a educação de qualidade, acesso a um sistema de saúde universal e bastante eficiente, ambos gratuitos. Além disso oferecia emprego a todos, oferecia igualdade entre os gêneros e salários bastante nivelados. E também um sistema generoso de pensões. Poderia se passar um ano escrevendo sobre os benefícios que o Estado garantia à população em geral. Era um sistema voltado para os trabalhadores, a famosa ditadura do proletariado.

Outro ponto interessante é que, apesar de não ser tão "rica" - leia-se: não ter todo o poderio econômico - quando sua adversária do Oeste, sua economia estava em constante expansão e seu crescimento econômico real era mais alto que o da Alemanha Ocidental, mais alto inclusive que o dos próprio EUA. Inclusive na década de 80. E deve se levar em consideração ainda o fato de que a RDA representava apenas um terço do território alemão, com 17 milhões de habitantes contra 63 milhões do Oeste, e que a porção Ocidental sempre fora mais industrializada e desenvolvida que a porção Oriental. Logo depois da guerra, a riqueza per capita da RFA era quase 30% maior que a da sua companheira oriental. Ou seja, a RDA começou atrás e teve que correr muito para diminuir esta disparidade. O que fez muito bem.

E quando o Muro finalmente caiu. O que aconteceu? Um retrocesso econômico forte, desemprego, a volta do crimes violentos, aumento do custo de vida, entre outros problemas. Ah, mas pelo menos agora eles eram "livres" para votar em lacaios do capital para "representá-los" no parlamento! Que vitória, ein? De um Estado que presava pelo bem-estar de seus cidadãos para um que presa pelo bem-estar dos bancos e grandes empresas. Não é à toa que mais da metade dos alemães orientais desprezam o capitalismo. Alguns até dizem que "foram lançados para fora do paraíso quando o Muro caiu" ou agradecem a deus por terem vivido na RDA.

Então alguém vem e lança o famoso clichê: "Se era tão bom, porque pessoas fugiam de lá?". Primeiro, era a minoria da população que tentava fugir. Segundo, pessoas eram atraídas para o Oeste por causa da promessa de riqueza fácil - o governo ocidental dava uma série de vantagens econômicas para a mão-de-obra especializada oriental. Homens e mulheres que só pensavam em seus umbigos não pensavam duas vezes antes de abandonar o igualitarismo. A promessa de muito luxo não deve ser desprezada, muitas pessoas são gananciosas e simplesmente querem se dar bem a todo custo. Temos vários exemplos aqui no Brasil.

O fato é que todo aquele bafafa sobre o Muro ano passado não passou de mais um espetáculo propagandístico ocidental, carregado daquele tão conhecido ódio pelo povo e pelo socialismo. O capitalismo não trouxe nenhum benefício para os alemães orientais, aliás, piorou suas condições de vida significativamente. Bom, mas a Alemanha está unida de novo! Unida em torno da exploração e da desigualdade. Palmas para ela!

Para um panorama melhor da RDA, recomendo este artigo excelente de Stephen Gowans: http://gowans.wordpress.com/2009/10/25/democracy-east-germany-and-the-berlin-wall/

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