sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sobre o culto da personalidade e as suas conseqüências

"Fala-se do culto da personalidade de Stálin. E como pode criticar-se uma nação se ela possui um bom dirigente que conduz o seu povo a sucessos reais? Pode condenar-se o que é de louvar?"

Estas palavras foram ditas por um cidadão soviético anônimo, interrogado na rua em 1987. (KILEV, Mikhail. "Kruschev e a Desagregação da União Soviética", p. 11)

Bom, não vou nem me deter em como Kruschev impôs seu discurso "secreto" ao Partido, ferindo os velhos príncipios leninistas da democracia interna do Partido. Vou direto ao ponto. A tese do "culto" era a fase final do golpe revisionista, a última grande pancada que acabaria de eliminar qualquer influência dos marxistas-leninistas dentro do governo soviético. Ao transformar Stálin em um monstro, Kruschev não só acabou com o prestígio daqueles que apoiaram o "ditador", como também mudou drasticamente a história de seu país, deixando para as próximas gerações uma imagem deturpada da construção socialista da União Soviética, transformando uma época de conquistas em uma época de sofrimento e pobreza. O impacto disto foi tão grande, mas tão grande, que o movimento comunista internacional entrou em parafuso. Ao mesmo tempo que grandes homens como Mao Tsé-Tung e Enver Hoxha - e seus respectivos Partido Comunista da China e Partido do Trabalho Albanês - se levantaram em indignação contra Kruschev, uma legião de partidos mais crédulos rechaçou a imagem de Stálin e colocou-se ao lado do Primeiro Secretário soviético. No Brasil, por exemplo, o Partido Comunista rachou-se em dois: o PCB e o PCdoB.

A cisão foi gigantesca no cenário mundial. Um antes gigantesco e bem estruturado movimento internacional, transformou-se em uma confusão de partidos, cada qual achando que o seu caminho era o caminho verdadeiramente "leninista". Trotskistas, hoxhaístas, titoístas, maoístas, leninistas, revisionistas, etc. Todos estes grupos diziam-se defensores do verdadeiro socialismo e disputas internas atrás de disputas internas minaram qualquer poder que os comunistas um dia tiveram.

E como Kruschev conseguiu tudo isso? Bom, com a morte de Stálin os marxistas-leninistas perderam seu maior líder. E o pior, em uma situação extremamente desfavorável. Já que a nomenklatura detinha poderes gigantescos dentro dos aparatos do Partido e do Estado. O único freio ao poder dela, era a autoridade grandiosa de Stálin, que ao contrário do que muitos pensam nunca se deveu a algum dispositivo constitucional ou a um cargo recheado de poderes, muito pelo contrário. O cargo de Secretário Geral do Partido não era um cargo que lhe garantisse poderes executivos, não era nem o mais alto cargo do Partido. Ele só passou a deter poderes legalmente mesmo quando tornou-se Presidente do Conselho de Ministros, ou seja, chefe do Executivo ou Primeiro-Ministro. A autoridade que Stálin possuía devia-se a apenas suas próprias capacidades administrativas e políticas, além do apoio da imensa maioria da população soviética. Esta informação é muito importante para se entender o golpe, pois constitucionalmente falando, quem detinha o poder na União Soviética era a burocracia, a nomenklatura, e não Stálin.

Portanto, quando Stálin morreu, o único legado que ele deixou além de alguns velhos bolcheviques em altos cargos estatais e partidários - como Vyacheslav Molotov e Lazar Kaganovich -, foi Lavrentii Béria. O chefe do NKVD logo continuou a luta anti-burocrática de seu tão estimado camarada Stálin. Seu discurso no funeral do camarada de ferro foi bastante agressivo, e Béria parecia não ter vontade alguma de colocar em votação a Constituição anti-nomenklatura - como Stálin fizera em 1936 - se ele pudesse, enfiaria goela abaixo dos burocratas cada artigo. Só que o apoio político que ele possuía era escasso e logo, seu próprio NKVD o prendeu e o executou (na verdade este assunto é por demais obscuro, não se sabe se Béria foi realmente preso ou não, alguns acham que ele foi simplesmente assassinado a mando de Kruschev).

Com Béria morto também, não havia mais ninguém com poder o bastante para impedir o golpe. Daí em diante, Kruschev e seus camaradas foram libertando criminosos e colocando-os em altos cargos do Partido. Os veteranos restantes dentro do Partido se transformaram em coadjuvantes, sem apoio, sem nada, eram minoria e nada podiam fazer frente a agressividade de Kruschev. Enfim, com uma base de apoio sólida dentro do Partido, Nikita sentiu-se forte o bastante para desferir o golpe final: o discurso "Sobre o culto da personalidade e as suas conseqüências". Nele, Kruschev argumenta que Stálin era um tirano que acabou com a verdadeira "democracia leninista", concentrando todos os poderes em suas mãos e manipulando o povo através da grandiosa propaganda em volta de sua pessoa. Stálin, nas palavras de Kruschev, era um homem sedento por poder e glória, que acabou escravizando o povo soviético em prol de seus desejos pessoais. E, claro, Kruschev era o salvador da Mãe Rússia, o paladino da justiça, o mais glorioso defensor do legado de Lênin. Bom, vou apenas lhes citar algumas frases ditas acerca de Stálin e vocês tirem suas próprias conclusões.

"Stálin não busca honrarias. Ele abomina a pompa. Ele é avesso a exposições públicas. Ele poderia ter todas as regalias no comando de um grande Estado. Mas ele prefere manter-se em segundo plano." (J. D. Levine: 'Stalin: A Biography'; London; 1931; p. 248-49)

"Em seus discursos e escritos, Stálin sempre se colocou em segundo plano, falando só do comunismo, do poder Soviético e do Partido, e sublinhando que ele era apenas uma representação dos ideais e da organização, e nada mais... Eu nunca percebi nenhum sinal de vanglória em Stálin." (A. Tuominen: 'The Bells of the Kremlin'; Hanover (New Hampshire, USA); 1983; p. 155, 163)

"Devo dizer em sã consciência, camaradas, que eu não mereço metade destes elogios que têm sido ditos aqui sobre mim. Ao que parece, sou o Herói da Revolução de Outubro, o líder do Partido Comunista da União Soviética, o guerreiro lendário, entre outras coisas. Isto é absurdo, camaradas, e um exageiro desnecessário. É o tipo de coisa que normalmente é dita na tumba de revolucionários falecidos. Mas eu não tenho intenção de morrer ainda. Eu realmente era, e ainda sou, um dos pupilos dos trabalhadores das oficinas da ferrovia de Tiflis." (J. V. Stalin: 'Works’, Volume 8; Moscow; 1954; p. 182)

"Você fala de sua devoção a mim... Eu lhe aconselho a descartar o 'príncipio' de devoção a pessoas. Esta não é a maneira Bolchevique. Seja devoto da classe trabalhadora, seu Partido e seu Estado. Isto é uma coisa boa e útil. Mas não a confunda com a devoção a pessoas, esta vã e inútil bobagem de intelectuais de mente pequena." (J. V. Stalin: 'Works', ibid.; p. 218)

"Robins fala para Stálin: O que é mais interessante para mim é que por toda a Rússia eu encontro os nomes Lênin-Stálin, Lênin-Stálin, Lênin-Stálin, interligados. Stálin para Robins: Isto também é exagerado. Como posso ser comparado a Lênin?" (J. V. Stalin: ibid.; p. 267)

"Eu sou absolutamente contrário à publicação de 'Histórias da Infância de Stálin'. Neste livro há uma abundância de fatos inexatos, de alterações, de exageros e de louvor não merecido. Mas... O que realmente importa é que este livro tem a tendência de esculpir na mente das crianças soviéticas (e pessoas em geral) o culto à personalidade de líderes, de heróis infalíveis (grifo meu). Isto é perigoso e prejudicial. A teoria dos 'hérois" e da "platéia" não é Bolchevique, mas Social-Revolucionária (i.e. Anarquista). Eu sugiro que se queime este livro." (J. V. Stalin: ibid.; p. 327)

E por fim, um brinde irônico proposto por Stálin na festa de Ano Novo de 1935: "Camaradas! Quero propor um brinde para o nosso patriarca, vida e sol, libertador de nações, arquiteto do socialismo (ele falou de todos os adjetivos aplicados a ele naquela época), Josef Vissarionovich Stálin, e eu espero que este seja o primeiro e último discurso feito para este gênio nesta noite." (A. Tuominen: op. cit.; p. 162)

As fontes que apontam para um Stálin humilde e tremendamente irritado com toda a bajulação à sua volta são intermináveis. Desde seus piores opositores aos mais próximos companheiros, todos são unânimes em dizer que ele não era vaidoso ou sedento por poder, que sua vida girava em volta de seu trabalho e de sua luta pelo socialismo. Ele trabalhava em média de 14 a 16 horas por dia! Que tipo de ditador é este?

A teoria do "culto" é simplesmente insustentável à luz das evidências. Na verdade Kruschev e seus comparasas burocratas é que desenvolveram o culto à Stálin, a interpretação do porque disto é de cada um. Acredito que o plano da tomada de poder fora arquitetado décadas antes de ser posto em prática, afinal foi tudo perfeito demais para ter sido obra do simples acaso, ou de um plano em cima da hora. Criou-se o culto para depois lançá-lo como "evidência" do "terror stalinista". Além disso, ao se personalizar o sistema em torno de um homem só, fica mais fácil de atacá-lo e evita o constrangimento de atacar o sistema em si - o que seria impraticável.

Concluo com as belíssimas palavras de Kruschev ditas no XIX Congresso do PCUS, em Fevereiro de 1952:

"O Partido Comunista abriu o seu XIX Congresso mais do que nunca solidário, unitário e poderoso, estreitamente reunido em torno do Comitê Central e do seu genial dirigente, o camarada Stálin (...) As nossas vitórias e as nossas realizações são devidas à justa política do Partido Comunista, à direção esclarecida do Comitê Central leninista-stalinista, ao nosso chefe e amado educador, camarada Stálin. (...) Os sucessos conseguidos pelo nosso país foram alcançados graças ao Partido, que prosseguiu um vasto trabalho de organização de massas para levar à prática as geniais indicações de Josef Stálin." (KILEV, Mikhail. "Kruschev e a Desagregação da União Soviética", p. 11)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

54 anos do Golpe Revisionista na União Soviética

Hoje, dia 25 de fevereiro de 2010, completa-se 54 anos do Golpe Revisionista de Kruschev. Neste mesmo dia, em 1956, terminava o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, congresso que ficou famoso pelo chamado Discurso "Secreto" de Kruschev. Nele, o chefe de Estado soviético lançou incontáveis mentiras acerca de Stálin e de seus camaradas, transformando o então amado líder em um tirano dos mais monstruosos. Tal ação foi aplaudida no ocidente, pois considerava-se que o regime socialista soviético se "liberalizaria". De certo foi o que acabou acontecendo, e por liberalização entende-se a expropriação dos bens do povo, transformando-os em riquezas individuais de uma meia dúzia de mafiosos truculentos. Mas este não foi o mais nefasto dos resultados deste golpe covarde. Kruschev conseguiu em um só golpe, o que a CIA, o FBI e outros órgãos reacionários jamais haviam chegado perto de conseguir em pelo menos 30 anos de operações anti-comunistas. Ele simplesmente destroçou o movimento comunista internacional, rachando-o em milhares de partidos desunidos e totalmente bagunçados ideológicamente. Foi o início desta "esquerda" bizarra que temos hoje, que é incapaz de se organizar e fazer uma frente forte o bastante para desafiar os poderes dominantes.

Portanto este Congresso foi um dos fatos mais importantes do século XX, que basicamente determinou os rumos que foram tomados em sua segunda metade. Se ele não tivesse ocorrido, e o revisionismo não tivesse tomado o poder na União Soviética, talvez o mundo fosse diferente hoje, talvez o comunismo se mantivesse como um forte sistema alternativo ao capitalismo.

Nos próximos posts buscarei aprofundar um pouco mais em certos aspectos deste Congresso, dando maior ênfase à questão do "Culto à personalidade".

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Opressivo e Cinza? Não, crescer sob o comunismo foi a melhor época de minha vida

Aqui vai um interessante artigo de Zsuzsanna Clark sobre o comunismo húngaro: http://www.dailymail.co.uk/news/article-1221064/Oppressive-grey-No-growing-communism-happiest-time-life.html##ixzz0X1KynO5C

Ela viveu na Hungria dos anos 70 e 80 e as histórias que conta são bem diferentes da que a mídia tenta passar para nós. Pobreza? Fome? Repressão? Como vocês acham que era a vida de um cidadão comum que vivia por trás da "Cortina de Ferro"?

É um relato maravilhoso, de um mundo completamente diferente. Com outras maneiras de pensar e de encarar a vida. Um mundo em que o que vale é a camaradagem e não o dinheiro, em que a cultura, a educação, a saúde, o lazer e o trabalho são os pilares fundamentais da sociedade.

Admiro a paixão com que ela expressa seu amor pela pátria socialista, porém não deixo de ler este texto com um olhar crítico. Por mais que ela tenha vivido em um país socialista, percebo que ela não tem muito conhecimento de política, de história e do socialismo em geral. Vivendo na Grã-Bretanha ela claramente ouviu algumas bobagens ocidentais por lá. Como por exemplo a lenda de que o "Stalinismo" era o terror puro e que foi o "comunismo liberal" húngaro que garantiu tudo aquilo para seu povo. Se ela buscasse fazer contato com soviéticos, com iugoslavos, com albaneses, ela basicamente ouviria histórias bastante parecidas com a sua.

O fato de sua mãe ter tido uma infância dura não se relaciona com o malvado Stálin, mas sim com a destruição causada pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros anos de socialismo depois da guerra foram tremendamente duros e sofridos. Falta de comida, de produtos industrializados, de tudo. Os países haviam sido reduzidos a pó e tiveram que ser reconstruídos do zero praticamente. O esforço do povo foi gigantesco, porém recompensador. Só como lembrete, os países socialistas dependeram de si mesmos - e da URSS - para se reconstruírem após a guerra, não houve qualquer tipo de ajuda internacional. Imaginem o trabalho que estas pessoas tiveram e as condições em que viviam, com tudo bombardeado e em ruínas à sua volta.

E só mais um lembretezinho para o leitor, a Hungria, junto com a República Democrática da Alemanha, com a Iugoslávia e com a União Soviética foram os países ditos socialistas que alcançaram os melhores padrões de vida.

"Stalinismo" igual ao Nazismo?



Em meados do ano passado, mais uma pérola anti-comunista foi lançada pela União Européia. A OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) tratou de igualar o chamado "Stalinismo" ao Nazismo, e não só isso criaram uma resolução que igualava os papéis da URSS e da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O dia 23 de Agosto (O dia que foi assinado o Tratado de Não-Agressão Molotov-Ribbentrop) se tornaria então o dia para se lembrar das vítimas do "Stalinismo" e do Nazismo. Qualquer que saiba pelo menos um pouco de História deveria ficar horrorizado com este ato criminoso de propaganda. Até onde eu sei, os verdadeiros criminosos foram a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.

A primeira com seus tratadinhos de paz com os alemães que acabaram por entregar países inteiros para as mãos dos nazistas - Lembram-se do Tratado de Munique e da Tchecoslováquia? Provavelmente não. Pois o Ocidente adora apagá-los da memória. Advinhem o que a URSS fazia enquanto a Grã-Bretanha entregava a Europa de mão beijada a Hitler? Convocava incessantes encontros diplomáticos com França e Grã-Bretanha para se formar uma Aliança Anti-Fascista sólida, mas as "democracias" ocidentais não deram muita bola. Simplesmente adoravam demais a idéia de ver uma suástica tremulando no Kremlin, em vez de uma foice e um martelo.

E quanto aos Estados Unidos? Há dois pontos. Primeiro, seus bancos e grandes empresários basicamente financiaram Hitler e, segundo, seu isolacionismo covarde aponta para uma atitude parecida com a das potências européias. Deixe Hitler livrar o mundo do comunismo! Quem cala, consente.

Aí é que teve que entrar a astúcia da diplomacia soviética. Abandonada pelo resto do mundo e frente a frente com uma impiedosa e sanguinária máquina de guerra, a URSS aceitou o Tratado de Não-Agressão apresentado pela Alemanha Nazista. Já que em 1939 seria suicídio enfrentar a Wehrmacht sozinha. E vocês me perguntam então: Porque a Alemanha propôs este Tratado à URSS? Simples. Nesta mesma época, a URSS estava em negociações com a Grã-Bretanha e a França para firmar a Aliança Anti-Fascista. E desta vez realmente parecia que as coisas iam engrenar. Hitler preocupou-se - lutar em dois fronts seria a derrota alemã. Então ele mandou diplomatas para a URSS numa tentativa de salvaguardar seu front oriental. O problema é que as coisas só pareciam que iam para frente, pois a legação britânica enrolou várias semanas para chegar na URSS e quando chegou, revelou que não tinha poderes para formar uma Aliança Militar de verdade. Aquilo seria só um pré-acordo. Ora, um pré-acordo não ajudaria a URSS caso os panzers alemães invadissem suas fronteiras! A saída foi assinar o Tratado de Não-Agressão com a Alemanha, pois a legação alemã veio com poderes dados pelo próprio Führer para firmar um acordo decente. Um acordo que deu quase dois anos para as indústrias soviéticas montarem uma máquina de guerra que enfim derrotaria o nazismo.

Outro ponto interessante é o Nazismo era genocida. Temos o Holocausto e a Guerra de Extermínio contra a URSS como prova de massacres que dizimaram milhões e milhões de vidas humanas. E o "Stalinismo"? Primeiro que nem existe "Stalinismo". Quem é rotulado de "Stalinista" pelo Ocidente considerava-se Bolchevique, ou simplesmente Comunista. Segundo ponto, não há nenhuma evidência que aponte para a URSS como um Estado genocida. Vocês podem pesquisar os resultados da pesquisa de John Arch Getty sobre o sistema penal soviético após a abertura dos arquivos no início dos anos 90. Podem pesquisar os resultados das pesquisas de Robert Thurston, de Yuri Zhukov e de tantos outros gigantes da História. E simplesmente não vão encontrar nenhum pingo de genocídio. Encontrarão certamente uma faixa de 300.000 a 600.000 mortos pelo regime até 1953. Uma parte era de assassinos e outros tipos de criminosos não-políticos que foram sentenciados à morte por seus crimes. Outra parte era de criminosos políticos, entre eles kulaks que pegaram em armas para defender o regime de servidão e que queimaram plantações inteiras, destuíram tratores e mataram animais como atos de terrorismo contra o Estado soviético. Mas grande parte deste número é formada por pessoas executadas sem julgamento, portanto possivelmente inocentes. Que a justiça seja feita, não sou nenhum fanático. Então Paulo, estas são as vítimas do "Stalinismo"! Me desculpe, mas devo discordar.

Primeiro é preciso entender o contexto histórico soviético dos anos 30. A ascensão do fascimo e sua retórica militarista e anti-comunista aterrorizava cada um dos cidadãos soviéticos. Além disso, a luta entre burocratas do partido e leninistas se tornava cada vez mais encarniçada. O que seriam estas duas facções políticas? A primeira é herdeira da burocracia do Império Russo, são sujeitos de mentalidade retrógrada que não tem escrúpúlos quando o assunto é poder e riquezas. Um de seus mais conhecidos nomes no Ocidente é Nikita Sergueievich Khruschev. E hoje em dia, Vladimir Putin. Um verdadeiro herdeiro da burocracia soviética. A segunda é herdeira de Lênin, defensora do socialismo e do poder aos sovietes, são sujeitos muitas vezes humildes que defendem a igualdade a todos os custos. Sua figura mais proeminente é justamente Josef Vissarionovich Dzhugashivilli, o famoso Stálin.

Enquanto os burocratas tentavam centralizar cada vez mais o poder em suas mãos, Stálin tentava descentrálizá-lo nas mãos dos Sovietes. A briga torna-se mais feroz com o advento da nova Constituição Soviética. Stálin e seus companheiros criaram uma Constituição que minava o poder dos burocratas, apelando para eleições competitivas, secretas e diretas, além da completa separação do Estado e do Partido. O Partido passaria a ter apenas a função de propaganda, libertando assim, o Estado das mãos dos burocratas. As eleições acabariam por dizimar os últimos inimigos do povo, já que os leninistas é que detinham a aprovação da população. O problema é que estes artigos revolucionários foram recusados, já que a nomenklatura (outro nome para os burocratas) deteve maioria nos sovietes e no Birô Político do Partido. Stálin morreu lutando por isso, assim como Beria. E com eles o marxismo-leninismo foi enterrado de vez na União Soviética.

As conspirações de Tukacheviskii e dos direitistas tiveram grande papel nesta vitória da nomenklatura. Já que elas serviram como forte sustentáculo da burocracia soviética, que espertamente desviou a atenção da nação da Nova Constituição para o perigo extremo da Contra-Revolução. Além do que, isto tudo lhes deu pretexto para a repressão em massa em defesa da Pátria Mãe. Vários opositores da nomenklatura foram executados sumariamente - só Kruschev tem o peso de 80.000 vidas em suas costas - ou presos sem mais explicações. As troikas espalharam o terror pelo país, tudo por causa de um exagero enorme acerca das Conspirações anti-soviéticas da década de 30. Stálin, pressionado pelas troikas, acabou por assinar um documento que as apoiava. Yuri Zhukov, historiador chefe da Academia de Ciências de Moscou, diz que se ele não tivesse assinado, provavelmente seu nome estaria no Memorial das vítimas da Grande Repressão.

Portanto estas milhares de vítimas não são vítimas do "Stalinismo", mas sim da nomenklatura soviética. Tanto que Stálin fez questão de colocar Béria no poder, assim que o medo disseminado pelos burocratas veio abaixo e a situação se acalmou. Lavrentii Béria então normalizou o caos que se encontrava na nação. Levando o NKVD a fazer inúmeras investigações que acabaram por prender e executar Ezhov e Yagoda, além de outros membros do NKVD que prenderam e mataram ilegalmente. Além disso, centenas de milhares de pessoas foram libertas, após as investigações concluírem que não havia nada contra elas.



Logo, como igualar o Nazismo ao "Stalinismo"? Eram dois regimes antagônicos que se odiavam mais do que tudo neste mundo. Um era um regime racista, genocida e militarista. O outro levantava a bandeira do internacionalismo proletário e da luta contra a exploração do homem pelo homem. O fato é que a União Européia teme e teme muito o impacto que as idéias de Lênin e Stálin podem causar. Teme que o gigantesco desenvolvimento social, cultural e econômico da URSS em um espaço de 20 anos possa levar mais e mais pessoas a acreditar em uma alternativa ao capitalismo. Como aliás vem acontecendo na Rússia, na Ucrânia, na Hungria e em algumas outras ex-repúblicas socialistas. A força de manifestações comunistas nestes países é cada vez maior, como os aniversários da Revolução de Outubro e de Josef Stálin demonstraram ano passado, juntando centenas de milhares de pessoas em torno dos estandartes vermelhos que tanto aterrorizam as elites ocidentais.



Isso tudo não passa de lavagem cerebral discarada. Não duvido que as próximas resoluções virão criminalizar o Comunismo. Colocando-o novamente na clandestinidade. Forçando o ensino das próximas gerações a enfiar a ideologia liberal goela abaixo das crianças - mais ainda do que hoje em dia -, forçando o ensino a elevar propagandas puramente ideológicas ao status de "verdade absoluta e incontestável". Logo mais falar em Lênin, Stálin e URSS será como defender a tese do "Holoconto" e o Nazismo. Pessoas serão presas e reprimidas por isso.

Abaixo à criminalização do Comunismo! Abaixo à lavagem cerebral capitalista!

Glórias eternas à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas! E à verdadeira democracia popular!

Bibliografia: "Life and Terror in Stalin's Russia" de Robert Thurston, "Stalin and the Struggle for Democratic Reform" de Grover Furr, "Inoy Stalin" de Yuri Zhukov e "Victims of the Soviet Penal System in the Pre-War Years: A First Approach on the Basis of Archival Evidence" de John Arch Getty, Gabor T. Rittersporn e Viktor N. Zemskov.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Primeiras Palavras

Bom, este blog dedica-se ao socialismo e sua História, porém com um foco bem maior na União Soviética. Até por isso resolvi chamá-lo de Mamayev Kurgan. Para quem não sabe, Mamayev Kurgan é um morro situado na cidade de Stalingrado (Volgogrado hoje em dia), túmulo de um grande herói russo - um guerreiro ucraniano da Idade Média - e também túmulo de milhares de invasores fascistas abatidos durante a Grande Guerra Patriótica. O morro foi um foco de resistência dos soviéticos durante os sangrentos combates contra a Wehrmacht e, por seu imenso papel na vitória, recebeu uma gigantesca estátua como homenagem aos heróis que morreram lutando contra a ameaça nazista. É a Mãe Rússia chamando seus filhos para defendê-la.


Portanto, não consegui pensar em um nome melhor para este blog, afinal, a vitória sobre o fascismo foi talvez a maior vitória do comunismo internacional desde a Revolução de Outubro na Rússia.

E o que mais me irrita é que até hoje lendas e mais lendas circulam - principalmente pelo Ocidente - para tentar diminuir o brilho da vitória soviética. O engraçado é que boa parte delas é iniciada por ultra-nacionalistas do Leste Europeu, que até hoje não se conformam com a derrota do nacional socialismo alemão. Nesta tentativa de rebaixar os soviéticos e glorificar os alemães vale tudo, desde "general inverno" até a balela de que o "lend lease foi fundamental". Enquanto o mundo vira seus olhos para os árabes, achando que ali é que mora o perigo, eu olho para o Leste Europeu. O Fascismo vem ganhando força por lá, países como Ucrânia e Estônia colocam como heróis nacionais homens que lutaram lado a lado com os alemães - como Stepan Bandera - mas o pior ainda está por vir, os governos da Letônia e da Lituânia não só impediram os veteranos do Exército Vermelho de fazerem a tradicional parada da Vitória, como também permitiram que veteranos da SS fizessem as suas. A coisa é feia.

E o pior de tudo, as "democracias" ocidentais mais uma vez se colocam do lado dos fascistas, apoiando cada uma dessas caricaturas de Hitler. E por duas razões básicas: fazer frente à Rússia - que apesar de seu governo corrupto e pouco progressista, segue políticas claramente independentes e muitas vezes opostas aos interesses ocidentais - e reforçar o combate ao comunismo. Ao comunismo? Mas ele não morreu junto com a URSS? A respota é não. Olhem por vocês mesmos: http://www.france24 .com/en/node/ 4915979. E aqui a queda das ilusões sobre o capitalismo: http://www.globescan.com/news_archives/bbc2009_berlin_wall/

O comunismo está bem vivo. Fraco, porém vivo. E pouco a pouco ele vem ressurgindo das cinzas criadas pelo Revisionismo. A nostalgia dos tempos soviéticos é crescente nas ex-repúblicas, ainda mais com as brutais quedas de padrão de vida que o capitalismo trouxe à população. Será que estamos nos encaminhando para um novo embate Comunismo x Fascismo? As chances são pequenas, mas a História... Ah, a História é cheia de surpresas.